Jair Bolsonaro se elegeu sob a narrativa de combater ideologias que, segundo ele, são esquerdistas. Isso inclui partidos, movimentos e até países que seguem essas diretrizes que o Bolsonarismo aprendeu a abominar. Dessa forma, o chefe do Executivo brasileiro se aproximou dos Estados Unidos, tendo como base a sua verdadeira adoração pelo presidente Donald Trump. A relação entre os governos brasileiro e americano nunca esteve tão próxima, com alto nível de subserviência por parte do Itamarati.
Por outro lado, Bolsonaro buscou criar atrito e se afastar de tudo que julga ir de encontro aos seus “conceitos”. No plano geopolítico, a China (o nosso maior parceiro comercial) é o adversário preferido do presidente brasileiro (tal postura está relacionada a disputa geopolítica entre chineses e americanos, sobretudo no que diz respeito a tecnologia 5G).
Mesmo o mercado brasileiro sendo altamente dependente do chinês, o campo ideológico de nosso governo continua a esticar a corda, aumentando a tensão. Segundo dados do próprio Itamaraty, o comércio Brasil-China ampliou-se de forma marcante na última década. De US$ 3,2 bilhões em 2001, passou para US$ 98 bilhões em 2019 (volume quase igual ao recorde alcançado no ano anterior, de US$ 98,9 bilhões). Desde de 2009, o referido país asiático é o nosso maior parceiro nas relações de comércio internacional.
Ou seja, a narrativa Bolsonarista, de cunho ideológico (não se baseia em dados técnicos ou documentos comprobatórios do que acusa) poderá criar sérios problemas a economia brasileira, caso mantenha essa relação de atrito com a China. O Brasil precisa muito mais do referido país asiático do que o contrário. Um embargo econômico chinês de grandes proporções – mesmo em um prazo curto – seria um desastre considerável a nossa balança de pagamentos. O nosso superavit primário iria para o “espaço” sem a presença da China. Até que ponto essa narrativa bolsonarista agrega? Pelo contrário, desagrega.
Do outro lado do mundo, mais acima, passando a Linha do Equador, ainda no continente americano, temos outro problema. Bolsonaro “mergulhou de cabeça” na campanha de Donald Trump. Sem cerimônias, externou o apoio irrestrito ao republicano. Até o fechamento deste artigo, pesquisas e analistas de política apontavam que os Democratas retornarão à Casa Branca, com Joe Biden. Se confirmar a derrota de Trump, pode-se esperar que a relação Brasil-Estados Unidos tende a ficar estremecida. O próprio candidato Biden já veio a público reprovar o governo brasileiro e a figura do presidente Bolsonaro.
A questão é: com Biden no poder, como ficará a relação diplomática entre os dois países? Não esqueçamos que, os Estados Unidos são o nosso segundo maior parceiro comercial, sendo assim, poderíamos ter uma relação arranhada entre os presidentes americano e brasileiro. Tudo porque Bolsonaro resolveu desprezar a instituição Presidência da República, e governa exclusivamente por suas convicções ideológicas.
Veja, por exemplo, o caso da vacina contra a Covid-19 desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac Biotech em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo, que o presidente brasileiro desistiu de comprar. A decisão desautorizou o ministro Eduardo Pazuello (Saúde), que havia assinado o protocolo para a aquisição das doses. A justificativa do mandatário da nação foi a falta de confiança no produto chinês. Para Bolsonaro falta comprovação científica para o uso. Isso mesmo. Logo ele que demonstra pouco ou nenhum apreço ao trabalho da Ciência. Comprovação técnica precisa para a vacina chinesa, mas é dispensável para o uso da Cloroquina? Esta sem nenhuma comprovação de sua eficácia.
Decisões e posturas, ambas guiadas por questões ideológicas do presidente, poderão custar muito caro ao Brasil. Tensões contra China e Estados Unidos tendem a gerar uma fatura difícil de pagar. Vale a pena? Para a militância bolsonarista, pouco importa.
Desde o início do governo que este Blog afirma que Bolsonaro combate ideologia com mais ideologia. Ou seja, no fim, é apenas a substituição de um pensamento por outro, este mais conservador.