Ontem, 04, 2.966 óbitos por Covid-19 foram registrados no Brasil. Acumulado é de 411 mil, com 77 mil casos novos. Claramente, a média móvel (somando-se o número de casos de cada um dos sete dias anteriores e dividindo esse resultado por sete) vem caindo depois de uma segunda onda que fez subir consideravelmente o número de mortos no país. Todavia, não há o que comemorar, morre-se muito de Covid-19 no Brasil.
A questão é: quantas vidas poderiam ter sido salvas se o governo do presidente Jair Bolsonaro tivesse feito ou tido postura correta em relação à crise sanitária? Se tivesse agido para garantir ações de distanciamento social, promovido políticas de assistência que efetivamente garantissem a permanência das pessoas em casa? Quantas vidas poderiam ter sido salvas se não tivessem fomentado o uso de medicamentos sem eficácia comprovada, que acabaram por encorajar pessoas a irem às ruas? Quantas pessoas perderam a vida ao seguirem a postura do presidente Bolsonaro, aglomerando, muitas das vezes, sem máscara. Quantas vidas se foram por conta do negacionismo?
Como já dito em outro artigo, infelizmente, o Brasil tornou-se exemplo do que não fazer em uma pandemia. O mundo fechou as portas para nós. Somos uma fábrica de variantes do vírus que, ao circular sem controle, vai se replicando, e esses erros em sua maquinaria dá origem a outros, geralmente mais potentes. Isso explica algumas mudanças na forma de infecção, morte e alterações na classificação de grupo de risco. As Unidades de Terapia Intensivas (UTI) estão lotadas de pacientes abaixo da faixa etária dos 40 anos. Além disso, claramente, a estadia nesses leitos intensivos é mais longa. Antes existia a possibilidade de ser infectado, e ao desenvolver sintomas, tratá-los em leitos de enfermarias ou até em casa. Agora muitos estão se infectando e já necessitando em poucos dias de intubação.
Como já dito aqui, normalizamos a morte. Ao termos atingido recentemente o pico de quatro mil mortes em 24 horas, nada mudou, o país continuou a seguir o seu funcionamento normalmente. Nada parece ter a capacidade de indignar e promover ações mais contudente em relação aos que promoveram e ainda promovem esse caos. Parece que havia uma esperar por algo que gerasse um grande impacto, uma perda que provocasse uma comoção nacional. Infelizmente, ela veio. Ontem, 04, o artista Paulo Gustavo perdeu a batalha para o vírus depois de dois meses de luta pela vida. Horas antes do boletim médico que anunciou a sua partida, outro já havia deixado claro a todos que a situação (quadro de saúde) tornou-se irreversível. Horas depois sem nada mais a ser feito, Paulo Gustavo se foi.
Ontem, 04, uma verdadeira comoção tomou conta do Brasil. Todas as redes sociais voltaram-se ao triste episódio, assim como os meios de comunicação. Paulo Gustavo era muito querido por todos, não havia contra ele rejeição. Tornou-se para milhões de brasileiros um componente da família, a quem poderíamos nos dirigir de forma íntima.
Após o anúncio de sua morte, parece ter sido ligado um start, as redes sociais se voltaram contra o governo e a sua postura na pandemia. Creditaram mais essa morte ao presidente Bolsonaro que, aliás, pela primeira vez, prestou condolências. Diversos outros artistas e personalidades que perderam a batalha para o vírus, não receberam nenhuma menção do mandatário nacional. Está claro que a comoção nacional da perda o fez (muito provavelmente por pressão) ter feito referência ao artista, mas não se pode esquecer que, Bolsonaro enfrenta uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada no Senado Federal, sobre a atuação de seu governo na pandemia.
Que a morte de Paulo Gustavo sirva de estimulo para que milhões de brasileiros possam ter uma postura mais enérgica sobre os desmando das autoridades nesta pandemia, cobrar que os responsáveis sejam punidos criminalmente por seus atos ou renúncias. Que o artista em questão, através de sua partida precoce, possa ser esse levante dos brasileiros em defesa da vida e da responsabilização dos culpados. Obrigado, PG.