Bastou o ex-presidente Lula ter restabelecido os seus direitos políticos, ou seja, ter suas condenações anuladas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, para que mudanças começassem a ocorrer, em especial no terceiro andar do Palácio do Planalto. Explico: antes do petista ter a possibilidade de se tornar elegível, a gestão do presidente Jair Bolsonaro em linhas gerais é um desastre, o mandatário estava confortavelmente (mesmo com a contínua queda em sua popularidade) liderando todas as pesquisas de opinião.
Não havia até poucos dias, qualquer outro adversário que pudesse ameaçar o seu projeto político de reeleição. Todavia, a decisão de ofício de Fachin mudou esse cenário. Lula é sim (por mais que os bolsonaristas neguem) uma ameaça, caso concorra, em 2022. Isso fica claro e confirmado (resguardas as devidas proporções temporais) em uma pesquisa divulgada ontem, 10, encomendada pela CNN Brasil em parceria com o Instituto Real Time Big Data aponta Bolsonaro com 31% dos votos, contra 21% de Lula. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa traz como possível cenário para a eleição presidencial uma disputa entre oito candidatos. Atrás de Bolsonaro e Lula, há um empate técnico no terceiro lugar entre quatro candidatos: Sergio Moro (10%), Ciro Gomes (9%), Luciano Huck (7%) e João Doria (4%).
Os possíveis candidatos João Amoêdo e Marina Silva também empatariam tecnicamente, segundo a pesquisa. Amoedo registou 2% das intenções de voto e Marina Silva somou 1%. Votos brancos e nulos somam 12%, enquanto 3% disseram que ainda não sabem como irão votar ou não responderam.
O levantamento também tabulou dados referentes ao segundo turno. Considerando os dois candidatos mais bem colocados na pesquisa, Bolsonaro e Lula, o formato estimulado registrou 43% das intenções de votos para o atual presidente, e 39% para o ex-presidente Lula. Levando em conta a margem de erro de três pontos percentuais, eles estão tecnicamente empatados no segundo turno.
Ainda considerando um possível segundo turno em 2022, a pesquisa aponta que votos brancos e nulos somam 15%. Já 3% dos entrevistados não sabem ou não responderam essa etapa da pesquisa.
Lula assombra o Bolsonarismo que muda postura e discurso
Caso algum bolsonarista duvide ou desconsidere esse subtítulo, ele faz sentido e as evidências que o sustentam estão postas. Ontem, 10, o ex-presidente Lula concedeu um longo discurso, transmitido de forma simultânea em diversos canais de comunicação. Horas depois, o presidente Bolsonaro promoveu evento no Palácio do Planalto sobre a sanção de projetos de lei que ampliam a compra de vacinas. Chamou atenção que as autoridades presentes usavam máscara, inclusive o presidente que recentemente atacou o uso da proteção. Outro fato foi a defesa do processo de imunização em massa, questão que sempre foi polêmica. O presidente afirmou que não tomaria nenhuma vacina, não compraria nenhum imunizante que tivesse participação, por exemplo, da China, nação que acusou de ser a causadora de forma acintosa da pandemia.
Nas últimas 48 horas o governo mudou. O negacionismo foi deixado de lado. Os protocolos antes desconsiderados, agora passaram a serem seguidos. Seria efeito da possível candidatura de Lula? Tudo indica que sim. Bolsonaro inaugura agora um novo nicho: os negacionistas do negacionismo. O que se pode imaginar é um aprofundamento do perfil populista do governo para fazer frente ao petista.
Ao cabo, a elegibilidade de Lula, o que pode torná-lo candidato em 2022, é bom para o Brasil de forma geral. A situação impõe uma nova realidade ao governo Bolsonaro. O faz, por exemplo, minimamente trabalhar, desce do campo ideológico (este extremamente negacionista) e pisar no mundo real, a começar no trato com a pandemia. O fator Lula está posto. Melhor para os brasileiros.