Passava das 16 horas quando um barulho ensurdecedor interrompeu, em 5 de novembro, a tranquila rotina do distrito de Bento Rodrigues, na cidade mineira de Mariana. Seguiu-se, então, uma nuvem de poeira e o revoar dos pássaros. Os moradores do vilarejo perceberam ali que havia algo errado. Em questão de minutos, gritos e buzinas tomaram as ruas: a onda de lama se aproximava. Só havia tempo para correr.
Isso foi em 2015, e foi considerado o maior desastre ambiental da história do país. Três anos depois, como esperado, os culpados não responderam criminalmente; as reparações e indenizações não foram pagas em sua totalidade e diversos processos se arrastam na Justiça, pelos procedimentos jurídicos que retardam o andamento dos processos, ação protagonizada pela empresa Samarco, uma subsidiaria da Vale, que foi responsabilizada pela tragédia.
Após o desastre em Mariana, o país acordou para um grande perigo silencioso: as barragens. Segundo relatório da Agência Nacional de Águas (ANA), há hoje 790 barragens de rejeitos de mineração dos país. Dessas 109 estão no Pará, 20 das quais com dano potencial associado. E sempre a mesma indagação: é possível ou qual o risco dos sinistros ocorridos em Minas Gerais possam se repetir, por exemplo, em Parauapebas e região?
Diversos textos sobre a referida questão foram postados neste blog. Desde o alerta para que as autoridades competentes possam tomar providências sobre essas estruturas construídas em Parauapebas e região, além de analisar, caso ocorresse algum problema, a exemplo de um rompimento, quais as consequências sociais e ambientais que seriam geradas?
Como se o caso de Mariana não bastasse ou pudesse ter servido de lição, agora outro caso: a barragem do Córrego do Feijão, em Brumadinho, na Região Metropolitana, rompeu-se no fim da manhã desta sexta-feira (25). A barragem é de responsabilidade da Vale. A barragem 1, que se rompeu, é uma estrutura considerada de porte médio para a contenção de rejeitos e estava desativada. Seu risco era avaliado como baixo, mas o dano potencial em caso de desastre era alto, como de fato, infelizmente, se comprovou da pior forma na prática.
O último balanço divulgado pelas autoridades nesta manhã confirma a morte de 37 pessoas e o resgate de 192 pessoas. Neste domingo, até o momento de publicação deste texto, não foi informado o número de desaparecidos (na noite de sábado, os bombeiros informaram que 296 pessoas estariam desaparecidas). Com o novo número de mortos, a queda da barragem em Brumadinho na sexta-feira já fez mais vítimas que o desastre ambiental de Mariana, em 2015, que deixou 19 mortos.
Com o acompanhamento do caso e apuração das primeiras informações, fica claro que a mineradora Vale sabia do risco, mas que as ações preventivas falharam ou foram negligenciadas. E tudo com a complacência do Poder Público. Exemplo: o secretário de Meio Ambiente de Minas Gerais, Germano Luiz Gomes Vieira, assinou em dezembro de 2017, norma que alterou os critérios de risco de algumas barragens, o que permitiu a redução das etapas de licenciamento ambiental no estado. A medida possibilitou à Vale acelerar o licenciamento para alterações na barragem da Mina de Córrego do Feijão,
Será que até então o ocorrido em Mariana, considerado até semana passada a maior tragédia ambiental brasileira e a maior daquele ano (2015) em todo o mundo não deixou uma lição? Não mudou a relação da extração mineral com o meio ambiente? A relação de governos com empresas mineradoras? Pelo visto, muitos questionamentos ficarão no ar, sem resposta. Impacto ambiental no Brasil ainda é segundo plano. Tudo em nome do desenvolvimento.
No caso de Brumadinho, além da questão ambiental, o custo humano foi altíssimo, chegando a gerar revolta. A tragédia em Mariana três anos depois parece não ter servido de alerta ao Brasil. A de Brumadinho finalmente será?