Sérgio Fernando Moro até o fim do ano passado era um juiz federal da 13.ª Vara Criminal Federal de Curitiba, ou seja, atuava na primeira instância da Justiça brasileira. Moro ganhou enorme notoriedade nacional e internacional por comandar, entre março de 2014 e novembro de 2018, o julgamento em primeira instância dos crimes identificados na Operação Lava Jato, que, segundo o Ministério Público Federal, é o maior caso de corrupção e lavagem de dinheiro já apurado no Brasil, envolvendo grande número de políticos, empreiteiros e empresas, como a Petrobras, a Odebrecht, entre outras.
Esse reconhecimento nacional o levou à época a ser convidado pelo presidente eleito Jair Bolsonaro, a ser Ministro da Justiça e Segurança Pública. Pediu exoneração da magistratura e assumiu o referido ministério no início do ano corrente. Chegou a Brasília com status de superministro, haja vista que sob seu comando estava além da Justiça, a inclusão da Segurança Pública e o âmbito legal trabalhista, com a extinção do Ministério do Trabalho.
Moro ao assumir o referido ministério, virou um agente político. A ele cabe fazer política, pois integra um governo. Sua atuação na Lava Jato, além de ser o magistrado responsável em ter sentenciado e consequentemente ter levado ao cárcere o ex-presidente Lula, elevou o seu nível de reconhecimento que ostenta hoje. No período eleitoral, além de Bolsonaro, Álvaro Dias deixou registrado que, caso vencesse a eleição, Moro seria o seu ministro da Justiça. Muitos “surfaram” na onda de popularidade positiva perante a sociedade que Sérgio sempre ostentou.
Mas ao sentar na cadeira de ministro – de olho em uma vaga no Supremo Tribunal Federal – Moro viu que a sua escolha, talvez tenha sido a certa (restritamente por interesse pessoal do ex-magistrado), mas, por outro lado, teria um preço, e que poderia lhe custar a imagem que o próprio e parte da grande mídia edificaram ao público: o de combatente da corrupção, doa a quem doer. Quem pensa dessa forma, desconsidera o volumoso contexto que Moro sempre recebeu ao ter atuado na Lava Jato, dos procedimentos realizados e da alquimia jurídica que fez ao condenar Lula.
Seu inferno astral começou pelos escândalos envolvendo o filho do presidente, Flávio, no caso dos assessores “laranjas”. Depois com o pivô do caso, Fabrício Queiroz; o caso de ministro do Turismo, Marcelo Dias, que envolve candidaturas de aluguel na campanha eleitoral em Minas Gerais.
Em todos os casos citados, Moro foi cobrado, haja vista, que, antes, a sua postura era bastante enérgica, quando estava na magistratura. Moro o ministro, se calou, se apequenou, tornou-se uma figura decorativa em alguns casos, com espasmos momentâneos que confirmam que a sua pulsação cardíaca está funcionando, como no caso do recém apresentado pacote anti-crime.
Conforme noticiado pelo site “O Dia”, Moro vem contabilizando dissabores. O último foi a demissão da cientista política Ilona Szabó de um cargo de suplente no Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária. Numa queda de braço em que é difícil dizer se o adversário é real ou apenas um robô, Moro perdeu. Bolsonaro optou por atender a parte de seus seguidores nas redes sociais e tirou de Moro a autonomia de indicar até mesmo uma suplente na sua pasta.
Os amigos dizem que Moro se achava preparado para enfrentar Brasília depois de ter tocado a Operação Lava Jato, que prendeu políticos do alto escalão e empresários do primeiro time. Agora, já teria entendido que o jogo da política é bem diferente.
Moro ministro está matando o Moro juiz. Riscando a cada semana ou a cada tropeço do governo que defende, a biografia do mesmo. Mas ele deverá continuar, mesmo que isso o fira em sua essência, pois o cargo de ministro não é o seu objeto maior. Ele seria a ponte mais certa e curta para chegar o que Moro realmente sempre almejou: uma cadeira no STF. E ele terá que ter paciência, a próxima vaga só será aberta em 2020. Até lá o ministro vai continuar apagando o juiz.