Novamente o mundo real de Brasília se impõe

Há pouco mais de um ano, escrevi artigo analítico que tinha como objetivo tratar das relações do governo do presidente Jair Bolsonaro com o Congresso Nacional. À época, após diversas farpas, crises e desentendimentos públicos entre os poderes Executivo e Legislativo, muitos desses conflitos gerados dentro do Palácio do Planalto, em que o governo – na figura do presidente Bolsonaro – queria impor (ao seu modo) uma nova relação institucional com o Congresso, tendo como instrumento a reforma da Previdência. Para analisar a conjuntura citada, intitulei: “A ‘Nova Política’ foi deixada de lado. O mundo real de Brasília se impôs”     

Jair Bolsonaro foi eleito com 57 milhões de votos sob a promessa de eliminar do cenário político do país o que se convencionou chamar de “velha política”, esta sendo a forma fisiológica que o Congresso – aproveitando-se de nossa particularidade que é o presidencialismo de coalizão – mantém junto ao Executivo, este praticamente refém. Essa ilusão vendida pelo presidente logo foi desmascarada.

O governo à época se absteve de fazer a articulação política junto aos parlamentares. Não faria para não promover o já conhecido jogo do “toma-lá-da-cá”, e como é sabido, a reforma da Previdência foi aprovada praticamente com a atuação dos lideres, em especial dos presidentes das duas Casas, Davi Alcolumbre e Rodrigo Maia, Senado e Câmara, respectivamente.

Jair Bolsonaro prometeu acabar com a “mamata”, com as indicações políticas em detrimento as de ordem técnica, porém nada disso ocorreu. Não se reinventa a política assim, de uma hora para outra, só por vontade. O processo é complexo. Não há como mudar o status quo, sem antes reformar o sistema. Como ser um governo totalmente independente, sem amarras junto ao Congresso, se o formato do sistema é o presidencialismo de coalizão?

No último domingo (19), junto aos seus correligionários, o presidente Jair Bolsonaro, se fez presente em um ato que pedia o fechamento do Congresso Nacional e o Supremo Tribunal. Ao discursar de improviso, disse aos presentes que “não negociaria”. Claro que tal mensagem ou recado foi dado ao parlamento.

Pois bem, tal promessa presidencial não durou nem 24 horas. No dia seguinte, o presidente já iniciava as conversas com partidos do chamado “Centrão”, em busca de apoio ao governo em votações de interesse do Palácio do Planalto. Em troca disso, Bolsonaro ofereceu aos dirigentes partidários, espaços em seu governo, com a disponibilidade de inúmeras secretarias e diretorias em diversos ministérios. Isso não seria a velha política, algo tão combatido pelo presidente?

Além dessa questão do restabelecimento de apoio legislativo, de quebra, Bolsonaro quer diminuir o poder de Rodrigo Maia na Casa, o seu mais novo inimigo, seguido a lógica do embate do Bolsonarismo que cria – como já dito aqui inúmeras vezes – inimigos invisíveis.

Não adianta vender sonhos, falar bravatas. A política real, a de Brasília (que Bolsonaro conhece bem, mas finge desconhecer) se impõe. E mais uma vez, a exemplo do ano passado, quase no mesmo período, o governo se viu na obrigação de praticar a velha política. E assim será, quando necessário como agora. O mundo real quando quer, derruba fantasias e discursos fora da realidade.

Henrique Branco

Formado em Geografia, com diversas pós-graduações. Cursando Jornalismo.

#veja mais

Campo Minado

Em 2021, o número de agressões a jornalistas e a veículos de comunicação manteve-se nas alturas e chegou a bater novo recorde: foram 430 casos,

Mineradoras podem ter sonegado R$ 35 bilhões em CFEM nos últimos cinco anos

O rombo da sonegação fiscal causada por mineradoras na taxa de compensação devida no Brasil pode ter alcançado cerca de R$ 35 bilhões somente nos

Vale tem lucro líquido de US$ 2,7 bilhões no segundo trimestre, alta de 210%

A Vale lucrou US$ 2,76 bilhões de forma líquida (atribuível aos acionistas) no segundo trimestre de 2024, número além do consenso da Refinitiv, que projetava

Exposibram 2023 abre as portas em Belém

Os rumos da mineração do Brasil serão apresentados pelo Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) e debatidos com autoridades, empresários e profissionais do setor, no final

ENTREVISTA: Saulo Ramos, secretário de Cultura de Parauapebas

Em um país cujas prioridades frequentemente são invertidas, não seria mesmo de se esperar que a cultura fosse tida como prioridade. E é nesse “novo”

Estrada de Ferro Carajás recebe reconhecimento por uso de IA na segurança

O uso de Inteligência Artificial (IA) rendeu à Estrada de Ferro Carajás (EFC) o primeiro lugar da categoria “vias seguras”, na última edição do prêmio