O “03” em Washington

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Ontem, 12, o presidente Jair Bolsonaro anunciou que poderia indicar o filho Eduardo para ser o novo embaixador do Brasil nos Estados Unidos. Entre todas as embaixadas do país no exterior, a de Washington é a mais importante para o nosso país, não só pela pela questão comercial, e sim geopoliticamente.

Em outrora, para se ter a indicação ao referido cargo, precisava-se preencher diversos pré-requisitos de formação profissional. Anos e anos de preparo. Formação em Relações Internacionais, economia, geopolítica, cursar o Instituto Rio Branco, que forma diplomatas e embaixadores, em uma seleção  disputadíssima e super rigorosa.

Estranhamente (agora, talvez não mais), o cargo estava em vacância havia um mês, e sem discussão nenhuma dentro do Itamaraty para ocupá-lo. Eduardo completou nesta semana 35 anos, a idade mínima para ser embaixador. E coincidência ou não, na mesma semana que atingiu a idade mínima, pode ser indicado pelo pai. A decisão do presidente é polêmica. Levanta debates, inclusive o de promover nepotismo. A justificativa de Jair para indicar o próprio filho foi que ele fala fluentemente inglês e tem ótima relação com os filhos do presidente americano Donald Trump. Só isso bastaria? E Eduardo a ser questionado se preenchia minimamente os pré-requisitos ao cargo, disse que já “fritou hambúrguer nos Estados Unidos”. Toda a história e importância do Instituto Rio Branco, reconhecido mundialmente, foi jogado no lixo.

A indicação que pegou a todos de surpresa, se for analisada em todo o processo, desde o início do governo, se perceberá que a ida de Eduardo para Washington, não é tão inesperada assim como se pensa. Primeiro, o “03”, desde o início do governo do pai, se colocou como um chanceler informal. Em todas as relações internacionais do Palácio do Planalto, ele se fez presente. Muitos afirmam que ele manda mais no Itamaraty do que o próprio ministro da pasta, o chanceler Ernesto de Araújo. Um fato curioso chamou a atenção aos mais atentos: quando o presidente Jair Bolsonaro se reuniu com o presidente americano Donald Trump no salão oval da Casa Branca, quem estava ao lado do mandatário brasileiro era Eduardo, e não Araújo, como tradicionalmente acontece, por se tratar do ministro das Relações Exteriores.

No imbróglio diplomático com a Venezuela, as narrativas mais contundentes vinham do “03”. Portanto, tal indicação não é tão surpresa como se pensa. Há método na escolha. O que precisa-se analisar agora é o papel que Eduardo exercerá na condição de representante do país, do governo de seu pai, em solo americano.

Vale lembrar que tanto Jair, quanto os filhos já demonstraram diversas vezes publicamente, posturas muito subservientes em relação aos Estados Unidos. Eduardo, por exemplo, já foi visto com boné com o nome de Trump, em propaganda de apoio político a reeleição do presidente (conforme imagem ao lado). Até que ponto essa subserviência seria um problema aos interesses brasileiros? Qual seria a plataforma política do filho do presidente ao representar o país em solo norte-americano? 

Ou tudo isso seria mais um teste, ao estilo bolsonarista de experimentar, mediar a repercussão? Uma grande cortina de fumaça? Sobre esses recuos (muitos deles estratégicos) já foram tratados por este blog. Caso o presidente desistisse de indicar o filho a embaixada americana, não seria também novidade.

O que parece (se concretizando ou não a indicação) é que ela passa por uma nova estrategia política. Como bem colocou Carlos Andreazza, em mais uma formidável análise política, é que a indicação de Eduardo tem método, faz sentido. Como deputado federal, sua atuação é irrisória, sem expressão, igual ao do pai em 27 anos. Ele como embaixador teria mais expressão, mais visibilidade, tendo como trampolim a relação com os Trump.

Vamos aguardar, em um governo marcado por recuos, melhor esperar. Caso seja indicado e aceite, será um retrocesso diplomático ao Brasil, mas por outro lado, reforça a força política do clã bolsonarista. A ver. 

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