Nesse momento, imagino que você já deva estar por dentro sobre o que está acontecendo em relação ao caso Americanas. Neste texto, explico de forma breve o ocorrido. Porém, meu foco principal é nos aprendizados que podemos tirar com esse episódio. Em linhas gerais, a nove dias no comando da Americanas, Sérgio Rial e André Covre, o CFO que havia entrado com o CEO, anunciaram a renúncia do comando da companhia.
De acordo com o executivo, após assumir a presidência no início do ano, começou a estudar os balanços da empresa para melhor entendimento do modelo de negócio e as formas de monetização. Ao longo do estudo, foram encontradas inconsistências contábeis de valor aproximado de R$ 20 bilhões. Tal montante era lançadas como redutor do passivo que a empresa tem com os fornecedores, ao invés de serem tratadas como dívida bancária. E isso foi o que motivou a renúncia e a teleconferência com os analistas de mercado, da qual pude participar.
Dúvidas pairam no ar
Embora já tenha se passado alguns dias do ocorrido, muitas dúvidas seguem no ar. O que sabemos até o momento é que a forma como a dívida bancária era lançada no balanço passava uma informação completamente errada sobre a alavancagem da companhia. Por sua vez, também sobre a solidez do balanço financeiro.
O resumo da ópera é que a companhia era muito mais endividada do que parecia. Além disso, seus resultados financeiros eram piores do que os reportados. Por isso, existe uma necessidade de aumento de capital superior a R$ 12 bilhões para que consiga honrar seus compromissos e continuar operando normalmente.
Muitas dúvidas pairam no ar:
1 – A empresa fechará as portas?
Não me parece ser o caso. Por ora, pelo que foi apurado, a Americanas vinha honrando todos os seus compromissos. Se os bancos que são credores dessa dívida não acionarem os dispositivos que permitem a antecipação do recebimento desse empréstimo, a companhia deverá continuar operando normalmente. Aliás, sobre esse tema, a empresa entrou com pedido de tutela de urgência cautelar, o que suspende toda e qualquer possibilidade de bloqueio ou penhora dos bens. Da mesma forma, também adia as obrigações perante os bancos até que um provável pedido de Recuperação Judicial seja feito à Justiça.
2 – Como fica o ambiente competitivo agora?
Acredito que a Americanas perderá espaço perante as demais competidoras. Para crescer, a empresa precisa investir e para ter uma folga de capital de giro, realizar dentre outras iniciativas, operações de risco sacado com os bancos. Como o business em que atua é capital intensivo e dado o contexto de provável pedido de Recuperação Judicial, acredito que a companhia precisará de alguns anos para ajustar a casa. Com isso, perderá entregará market share para empresas como Mercado Livre, Magazine Luiza e Via.
3 – Outras companhias do setor possuem esse mesmo tipo de prática de risco sacado?
Sim, o risco sacado é uma prática comum no mercado e tem por objetivo melhorar o capital de giro da varejista. Contudo, pelo que foi possível apurar até o momento e pelo que foi comunicado pela Magazine Luiza e pela Via, ambas fazem os lançamentos desse passivo de forma correta. Ou seja, o endividamento real delas é o reportado em suas últimas demonstrações financeiras, diferentemente da Americanas.
Por Fernando Ferrer – Money Times (adaptado pelo Blog do Branco).
Imagem: reprodução Internet.