O mea-culpa do PSDB

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O senador Tasso Jereissati, ex-presidente nacional do PSDB e presidente do Instituto Teotônio Vilela, braço teórico do partido, disse ao Estadão que os tucanos cometeram um “conjunto de erros memoráveis” após a eleição de Dilma Rousseff, com reflexos para o próprio PSDB nas eleições deste ano.

O partido cometeu um conjunto de erros memoráveis. O primeiro foi questionar o resultado eleitoral. Começou no dia seguinte (à eleição). Segundo ele não é da história e do perfil do partido questionar as instituições, justamente por respeitar a democracia. O segundo erro foi votar contra princípios básicos, sobretudo na economia, só para ser contra o PT. Mas o grande erro, e boa parte do PSDB se opôs a isso, foi entrar no governo Temer. Foi a gota d’água. Fomos engolidos pela tentação do poder.

Essas foram as afirmações dadas pelo senador Tasso Jereissati em entrevista ao Estadão. Vamos recapitular o processo anterior e que foi citado pelo parlamentar…

Quando iniciou o processo de impeachment de Dilma, na Câmara Federal, autorizado pelo ex-presidente da casa, Eduardo Cunha, o PSDB veio gradativamente se aproximando da cúpula do então PMDB, visando a derrubada do projeto de poder do PT, após 13 anos de hegemonia. Os tucanos aos poucos, nos bastidores, começaram a negociar apoio em troca de espaços no governo interino que se formava.

Sem cerimônias e de forma rápida, Aécio Neves e companhia ingressaram no novo governo, com controle de ministérios e forte influência nas decisões presidenciais. Desta forma, estava se costurando a possibilidade do PSDB se reforçar (ainda mais com a crise de seu maior adversário político: PT) para chegar mais forte na disputa presidencial de 2018. Ainda mais porque Temer deixava claro que não seria candidato, o que abria espaço para o PSDB se lançar ao pleito com apoio do então PMDB. Esse acordo esteve sempre na pauta entre as duas legendas e até se tornou público.

A relação sempre foi de altos e baixos. A proposta de convencimento aos resistentes era que o partido apoiaria o governo com certo distanciamento para manter – se possível – certa coerência e futuramente desembarcar da base sem maiores rodeios. Todavia, os tucanos ficaram no governo Temer.

A questão é que a manutenção de apoio ao atual governo custou muito caro político-eleitoralmente ao PSDB. O candidato do partido ao Palácio do Planalto não decola nas pesquisas; a imagem da legenda é pior do que foi na última eleição, em 2014. A postura de Jereissati em assumir publicamente pode ter diversas interpretações. Seria uma tática de, ao assumir, reconhecer o erro e o expondo publicamente, tentaria mostrar ao eleitor uma imagem de um partido humilde, que está buscando – através do reconhecimento de seus erros – mudar? Ou seria o reconhecimento que as escolhas e decisões já decretaram a exclusão da legenda do segundo turno da eleição presidencial? Ou seria uma antecipação do senador cearense em relação a uma derrota anunciada?

Na campanha claramente Geraldo Alckmin tenta se descolar ao máximo da gestão Temer. Essa repulsa pública ao governo do MDB, fez com que o presidente gravasse um pronunciamento questionando a posição do ex-governador de São Paulo, o desmentindo e cobrando coerência. Conforme escrevi, tal ação de Michel Temer poderá ter sido a “pá de cal” na campanha de Alckmin.

As pesquisas eleitorais mostram que o PSDB corre o risco de não ir ao segundo turno, algo que não acontece desde 1994, em campanhas presidenciais. Pelo visto, o revanchismo tucano, após a derrota nas urnas, em 2014, só piorou o que já não estava bem. Há tempo de mudar? Ou já se pode reconhecer a derrota e, talvez, refundar o partido?

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