Os caprichos de Darci Lermen

Na última quarta-feira (14), foi tornado público pelo Portal Pebinha de Açúcar, um vultoso projeto que a Prefeitura de Parauapebas pretende colocar em prática, e que foi dividido em duas grandes frentes. Uma, segmentada em duas etapas de execução: a primeira intitulada “Complexo Turístico Parque da Bíblia”. Consiste na ampliação e a construção de diversos equipamentos urbanos novos naquele espaço público, que conforme matéria, até janeiro do próximo ano, terá o seu processo licitatório finalizado, com a escolha da empresa vencedora. O cronograma afirma que as obras iniciarão em abril de 2019. A segunda etapa, que se refere à construção do chamado “Parque da Bíblia”, terá as obras iniciadas em setembro de 2019, quase um ano antes da próxima eleição municipal.

A segunda frente é a construção de um novo Mercado Municipal, em substituição ao atual, construído na década de 80, no bairro Rio Verde. O que chamou atenção foi que as duas obras (Parque da Bíblia, localizado no alto de um morro e o novo mercado municipal) serão interligadas por teleféricos. Os projetos custarão R$ 15 milhões, montante custeado com recursos próprios da prefeitura.

A justificativa para tal empreendimento é o investimento para o fomento do turismo local; criando uma nova matriz econômica, que tem como objetivo diminuir a dependência da atividade mineral. Com relação à justificativa, é nobre e acertada em seu propósito final; apesar de que outros segmentos, por exemplo, polos universitários, comprovadamente possibilitam maior retorno à economia local (pelo fator de permanência de quem chega) do que o turismo, algo passageiro e até sazonal em alguns casos.

Em toda essa engenharia (construção de um novo mercado e uma nova praça, ambos necessários) o que chama atenção e que fomentará certa polêmica são os teleféricos. Seus defensores afirmam que ele será um propulsor ao turismo. Levará pessoas de um ponto a outro da cidade, aproveitando as variações topográficas naturais, o que permite tal implementação.

Darci é um prefeito inegavelmente visionário. Em seu repertório constam diversas pretensões faraônicas que já foram pensadas para Parauapebas. Exemplos não faltam: uma ponte estaiada que ligaria a PA-275 ao prédio da prefeitura; internet banda larga para todo o município; modal aquaviário no rio Parauapebas e a construção de um letreiro gigante com o nome da cidade, com dimensões que chegariam a 16 metros, montado no alto do Morro dos Ventos. A título comparativo, o letreiro mais famoso do mundo, no distrito de Hollywood, e que carrega o mesmo nome, mede 12 metros. Nada disso saiu do papel. Promessas que nunca foram cumpridas. Levando em consideração os custos e seu retorno à sociedade, é de se comemorar que não tenham sido realizadas.

Todos esses caprichos do atual mandatário da política parauapebense parecem não empolgar ou passam a serem automaticamente criticados, neste caso, os teleféricos. O município, segundo dados oficiais do Cageg (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), órgão ligado ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), soma mais de 40 mil desempregados. Levando em consideração o número de habitantes divulgado pelo IBGE (Instituto de Geografia e Estatística), há um desempregado para cada cinco habitantes. A situação é dramática.

João Maciel, que coordena a implantação do Distrito Industrial de Parauapebas, além de ser um dos idealizadores do projeto, afirma que os teleféricos terão a função de desafogar o trânsito, pois, segundo ele, poderão levar centenas de pessoas das estações (Mercado Municipal e Alto Bonito) até o centro da cidade. O turista ou até mesmo o munícipe (se puder pagar), por exemplo, quando estiverem no teleférico, poderão contemplar a pobreza do alto, de uma vista privilegiada. Talvez, possam se perguntar: como uma cidade tão rica consegue ter um cenário social tão penoso?

O governo não está conseguindo fazer o “básico”. Em todas as áreas há o consenso que a gestão não está em nível satisfatório. Em alguns segmentos, como saúde e educação, o cenário é crítico. Sem o básico, tratar de obras faraônicas fomenta a crítica e o repúdio coletivo. Parauapebas já passou do tempo de ostentar, de gastar com equipamentos sofisticados, enquanto a maioria de sua população mal está conseguindo fazer as três refeições mínimas diárias.

A crítica não se trata de se opor ao projeto e ao governo. Muito menos de ter uma visão provinciana, ou não aceitar que Parauapebas possa ter ares de metrópole, com retoques de “modernidade”. A crítica é o contraste que tal pretensão governamental impõe em um cenário de decadência social. 

Darci Lermen parece ter aceitado o suntuoso projeto por um viés de estratégia política. O “carro-chefe” de sua gestão, o Programa de Saneamento de Parauapebas (Prosap) ainda não saiu do papel, emperrado pela burocracia que a captação de recursos impõe, além das etapas processuais da liberação por parte do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O seu governo em poucos meses terá transcorrido a metade do tempo de duração, portanto, quase nada que foi feito chama a atenção da população. Lermen corre o risco de chegar ao seu último ano de gestão, às vésperas da eleição, e não ter avançado minimamente no Prosap. O que teria como legado a apresentar, caso dispute à reeleição? Qual terá sido a marca de sua gestão?

O teleférico pode ser a saída, por mais polêmico que seja. Não seria nada de outro mundo, levando em consideração os exemplos que foram citados anteriormente. Seria mais um capricho de Darci, de tantos outros que o prefeito de Parauapebas já teve. Pobre cidade rica.

Henrique Branco

Formado em Geografia, com diversas pós-graduações. Cursando Jornalismo.

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