Os sinais da derrota de Trump

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Foram três dias de espera e apreensão. Enfim, ontem (07), foi numericamente confirmada a vitória do democrata Joe Biden, ao atingir os 270 delegados do colégio eleitoral. A dita maior democracia do mundo, ainda mantém seu sistema eleitoral de forma manual, o que atrasa o processo de apuração. O pleito está definido, porém, há estados que ainda irão demorar mais um tempo para oficializar seus números. Tudo porque a campanha de Trump recorreu à justiça para cancelar ou, no mínimo, pedir recontagem de votos. Deixando de lado a judicialização do processo, Donald Trump encerrou o seu ciclo na Casa Branca. Apesar de não aceitar a derrota, ele sabe que não há o que fazer. Em 60 dias terá que deixar a Casa Branca.

O intuito deste artigo de opinião sobre o tema (um pouco deslocado da pauta do Blog) é apresentar quais sinais a derrota republicana nos apresenta. Tudo porque, Trump se elegeu sob narrativa extremamente conservadora; contra as minorias, em especial os imigrantes. Abandonou a linha do multilateralismo e apostou no isolamento americano no cenário geopolítico mundial. Criou grave crise diplomática com a China; sob o ponto de vista ambiental, rompeu acordos, se retirou de tratados, e mais grave: fomentou o negacionismo científico em meio a uma pandemia.

De favorito a derrotado

Há um ano, a reeleição de Trump era algo esperado, quase um consenso. A economia americana estava bem, o índice de desemprego baixo. Porém, nos últimos meses, tudo mudou. A pandemia do novo coronavírus chegou e destroçou a economia americana, além de ter tornado o país o primeiro em número de infectados e de óbitos; isso tudo em meio a inércia do governo e a negação do problema. Associado a isso, tivemos um amplo movimento antirracista que se espalhou pelo país, o “Black Lives Matter” (vidas negras importam). Essas questões foram minando a popularidade do republicano.

O futuro da relação entre Brasil e Estados Unidos 

O presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, nunca escondeu e até deixou sempre muito claro o seu apoio a Donald Trump. Há – como já dito aqui em outras análises – uma relação de subserviência do governo brasileiro, e motivos não faltam. Bolsonaro fez inclusive campanha para Trump, que agora está derrotado. Não se contentando em apoiar um lado, o presidente brasileiro, fez críticas públicas a Biden, e este cobrou do governo brasileiro maior cuidado em relação a Amazônia.

Com Joe eleito, a política ambiental brasileira irá mudar? Bolsonaro buscará um bom relacionamento com o novo mandatário americano, ou irá preferir tensionar? A política externa brasileira será reformulada? De certo é que Bolsonaro precisa se aproximar no novo hospede da Casa Branca, ou irá isolar o Brasil.

Alguns pontos precisam ficar bem claros. Primeiro, Joe Biden não é socialista, não é de Esquerda. Ele é – assim como Trump – de Direita, porém, menos ortodoxo. Todavia, o novo presidente apoiou guerras e também teve seus rompantes ditatoriais. Com ele no comando do país, os Estados Unidos não irão mudar a linha de atuação de sua política externa. A questão é que, a sua vitória, recoloca a democracia no trilhos e o país volta a uma certa normalidade. De resto, quase não há diferença.

Os sinais da derrota de Trump

Com o resultado definido, o questionamento que mais se faz neste momento é: a derrota de Trump – pela proximidade com Bolsonaro – pode servir de alerta ao presidente brasileiro que tende a disputar à reeleição, em 2022? A indagação faz sentido porque ambos se equivalem em algumas posturas. O conservadorismo tinha praticamente sumido no Brasil. Nem a Nova República foi conservadora. Alguma hora teria de voltar. Então, houve a tempestade perfeita. Operação Lava Jato, impeachment, clima de terra arrasada, descrença na política e uma crise da globalização favoreceram a retomada do espectro conservador. Mas Bolsonaro se orienta a partir de dois modelos aparentemente opostos. O do trumpismo, através de Olavo de Carvalho e seus discípulos. E a outra referência, por incrível que pareça, é o lulismo, em que o Bolsonaro se modela como um Lula às avessas, a partir de um eleitorado fidelizado.

O populismo de direita não vai desaparecer após o Governo Trump, mas as derrotas recentes mostram que o movimento é frágil do ponto de vista da governança. Por não ser mais novidade, também tende a ter menos eficácia nas próximas eleições. A oposição ao bolsonarismo pode observar o que aconteceu nos EUA e arrumar um candidato como o Biden, que não pode ser tachado de esquerdista nem está associado à direita. Mas, assim como a oposição aprende, Bolsonaro também pode tirar lição da derrota do Trump. Ao contrário do americano, o sistema político brasileiro é pulverizado, o que torna mais difícil a missão dos opositores de se organizarem em torno de um nome de consenso.

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