Quando Michel Temer desceu a rampa do Palácio do Planalto, após passar a faixa presidencial a Jair Bolsonaro, sabia-se que, cedo ou tarde, agora sem o foro privilegiado, ele seria preso. Mas esperava-se que a sua prisão ocorresse ao fim de todo o processo investigativo, quando as provas, neste caso irrefutáveis, falassem por si.
O ex-presidente foi preso ontem (21), em sua residência na capital paulista, em caráter preventiva. A decisão foi determinada pelo juiz federal Marcelo Bretas da 7.ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro. O referido magistrado determinou a prisão em meio à solicitação da força-tarefa da Operação Lava Jato, que apresentou “evidências” que os investigados estariam – na condição de livres – atrapalhando as investigações, portanto, Temer foi preso ainda na condição de investigado – sem qualquer condenação contra si.
Conforme dito pelo jornalista Carlos Andreazza: “questão de princípio legal: uma coisa é haver fundamentos – base probatória (por ora, com o que vai exposto no despacho, não há) – para sentenciar, para condenar, do que derivará a prisão; outra é usar os elementos disponíveis para alicerçar uma prisão preventiva, para a qual se exige um conjunto de requisitos.”
Portanto, claramente, houve excessos. A prisão do ex-presidente parece ser um plano, uma justificativa dos operadores da Lava Jato a classe política, a Brasília. Mas Temer, que logo estará solto, não deveria estar preso. Nem Moreira. Suas prisões, como foi a de Lula e outros dirigentes petistas, obedeceu à lógica da República da Lava Jato, convertida, no lugar da imprensa, em quarto poder. Provas circunstanciais, delatores encagaçados, ilações irresponsáveis, e a caneta pra assinar as prisões e buscas e apreensões. A Lava Jato, que já foi de Moro e Dellagnol em Curitiba, não renasceu com Bretas, nem hoje, nem nunca. A prisão de Temer e Moreira é o troco da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, que melou a tentativa dos procuradores de garfar R$ 2,5 bilhões da Petrobras.
A Lava Jato saiu das cordas e tenta se manter viva, pulsante. Mesmo que, para isso, tenha que manter um modus operandi, que na ampla maioria dos casos, está fora das balizas legais, constitucionais. O exibicionismo com roteiro de filmes de ação continua, como ocorrido com Lula e agora com Temer. O recado foi dado a Brasília.