Sabotador tucano

Em 2016, o então empresário João Dória era convidado pelo então governador Geraldo Alckmin para se filiar ao PSDB, para que, mais à frente, via prévias, pudesse concorrer a Prefeitura de São Paulo, o terceiro maior orçamento público do país.  O PSDB vinha de um desgaste por conta das denúncias que pairavam contra o então senador Aécio Neves, e que colocavam os tucanos na mesma condição dos petistas, já enrolados na operação Lava Jato.

Dória era o nome perfeito. Um outsider dentro do cenário político. Empresário bem sucedido que teria a capacidade de gerenciar a complexa gestão pública. Com o discurso da eficiência, de modernização; a vitória contra o então prefeito Fernando Haddad (PT) foi acachapante, em primeiro turno. Ao assumir a prefeitura da capital paulista, o tucano prometeu cumprir os quatro anos de mandato. Dois anos depois, sem constrangimento, decidiu se lançar como candidato ao governo paulista, iniciando ali os atritos com figurões do partido como Alckmin e Serra.

Venceu novamente, mas desde o primeiro dia no cargo de governador, sempre esteve de olho no Palácio do Planalto. No comando do Executivo paulista, bastaram 10 meses de gestão, para que a expectativa de sucesso fosse sendo substituída por uma geral decepção. Os desmandos, as falhas, decisões erradas, políticas públicas elitistas começaram a minar a imagem de gestor que Dória ostentava. Aliado a isso, as infindáveis viagens pelo Brasil e pelo mundo, sem uma agenda definida, aprofundaram a insatisfação coletiva em diversas camadas sociais paulistas.

Dória apresentou-se da pior forma possível, especialmente para si, que não é político (segundo o seu mais conhecido jargão), pois cometeu os mais absurdos deslizes para alguém que tinha pretensões bem ambiciosas, de chegar ao posto político mais alto do país. A prefeitura de São Paulo, assim como o governo do Estado, foram apenas o seu  trampolim político. Seu ego e interesse político o sabotou. Passou a ser um exemplo do que não fazer na política. De um mero oportunista que coloca acima de tudo os seus interesses pessoais. Desta forma que Dória continua a implodir internamente o PSDB.

A sua desistência da corrida presidencial no tempo limite para deixar o cargo de governador, reforça o seu perfil personalista ao extremo. Dória sabia que não teria condições de ser um candidato competitivo ao Palácio do Planalto, tendo como base na péssima avaliação que sua gestão vem ostentando. A rejeição ao seu nome é enorme. Ela foi construída através de inúmeros fatores, já expostos aqui. Agora, continuará no cargo até o fim do ano, mantendo a palavra em apoiar o seu vice, Rodrigo Garcia? Ou concorrerá à reeleição ao Palácio dos Bandeirantes?

Certo mesmo é que a decisão de João Dória em desistir da disputa presidencial é um alivio para muitos tucanos, assim como gerador de uma crise em um partido que perdeu o rumo. O PSDB poderá não ter candidato a presidente pela primeira vez desde 1994. O governador gaúcho Eduardo Leite, resolveu ficar no partido e agora poderá ser o candidato da legenda ao Palácio do Planalto.

João Dória implodiu o ninho tucano. Depois de sua chegada, o PSDB paulista nunca mais foi o mesmo.

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