O ano de 2016 se encerrava com o “apagar das luzes” do governo Valmir Mariano, do PSD, após ter perdido o processo eleitoral daquele ano para o então ex-prefeito Darci Lermen (à época no PMDB), que retornaria ao Palácio do Morro dos Ventos para um terceiro mandato, após quatro anos. Em seu último ano, Mariano tratou de deixar uma marca: um governo que fez muito pela infraestrutura da cidade, que somava 260 obras entregues, feito que foi muito utilizado pelo marketing. Todavia, muitos erros o fizeram perder aquela eleição.
Então, no fim de 2016, este que vos escreve produziu um artigo que tratou através de 12 apontamentos, os motivos que levaram a gestão de Valmir à derrocada eleitoral. Mais um artigo da série “#TBT do Blog”. Boa leitura.
Adianto que o intuito deste artigo não é, como se diz no jargão popular muito utilizado na política: “chutar cachorro morto”. Primeiro, mantenho o respeito ao atual prefeito que irá encerrar o seu mandato no fim deste ano. Não tenho objetivo de atacar ou denegrir a sua imagem. Fiz diversas críticas a sua gestão, todas de cunho público, nunca no âmbito pessoal. Não trabalho nesta linha. Apesar de saber que se enveredasse por tal caminho teria muito mais acessos em meu blog. Mas como venho sempre afirmando, quero qualidade nos acessos, no debate e contribuir com Parauapebas, município que escolhi morar.
Irei pontuar em diversos segmentos da atual gestão (levando em consideração que cheguei em Parauapebas no fim de 2014, portanto, acompanhei in loco, metade do governo. De resto, foram pesquisas e análises à distância).
1 – Início ruim de Governo
Inegavelmente, mesmo que aja transição entre gestões, iniciar um governo não é fácil. As forças políticas que chegam ao poder ainda estão se acomodando em seus espaços e construindo uma unidade gerencial que muitas das vezes não é possível ou não acontece em sua plenitude. O início do governo Valmir foi muito complicado. A montagem foi realizada de forma atropelada e que estava sendo influenciada por fatores externos. Retrato das composições e acordos políticos na campanha e que precisavam serem cumpridos. Isso explica as “tropeçadas” sucessivas e certa inércia administrativa no Palácio do Morro dos Ventos. Os dois primeiros anos foram complicados e pesaram na avaliação geral da atual gestão.
2 – Troca-troca no 1º escalão
Não há dúvida que o governo que se encerra bateu um recorde entre todos que assumiram a prefeitura da “capital do minério”: mudanças no secretariado. Até o processo de desincompatibilização exigido pela Justiça Eleitoral para os que pretendiam se lançar candidatos nestas eleições. Até o fechamento deste artigo, 55 secretários já haviam sido trocados. Qual gestão ou política pública (independente de área) sobrevive ou consegue realizações positivas com tantas mudanças? Exemplo disso foi a Secretaria de Cultura, a maior “moeda de troca” da gestão Valmir. Nove pessoas assumiram a citada pasta. Resultado pode-se perceber na produção cultural do município, quase inexistente.
3 – Governo ruim na articulação política
Toda e qualquer gestão deve primar por sua articulação política. Em um sistema presidencialista, onde o Executivo torna-se refém do parlamento, ter um bom articulador político é fundamental. Por exemplo, a chefia de gabinete do prefeito Valmir até o momento foi trocada quatro vezes. O que demonstra claramente descompasso na referida área. O atual Wanterlor Bandeira, que assumiu a função há pouco mais de um ano, melhorou a relação com a Câmara de Vereadores e acordos que deixavam de serem cumpridos. Mas tal mudança positiva poderia ter sido tarde, como de fato foi.
4 – Governo sem identidade social
Não há como negar que o governo municipal realizou muitas obras, sobretudo, as estruturantes, seguindo o perfil do prefeito. Deixará um legado de infraestrutura e avanços na mobilidade urbana, acessibilidade, transporte público, etc. Mas errou em não produzir políticas públicas sociais, como a gestão anterior fez. Pelo contrário, as desmontou. Não houveram políticas públicas municipais para ação e promoção social em um município em crise econômica. Isso é mortal eleitoralmente. O que foi mantido é o modelo assistencialista com recursos federais. Neste sentido, a sociedade, sobretudo, os mais necessitados, não se sentiram representados. Não viram ou perceberam no governo o cuidado, zelo em “acomodar” ou tentar diminuir a crise social e econômica.
5 – Governo de perfil exógeno
Não se precisa fazer esforço analítico para ter a concepção que o governo Valmir foi muito mais “para fora” do que “para dentro”. Ou seja, deixou de lado programas ou ações de dentro da gestão para serem realizadas ou produzidas por pessoas ou empresas do município, ou seja, gerando renda local e que não fossem enviadas para além da cordilheira de ferro que contorna a cidade. Isso criou sentimento parecido com o abordado no tópico acima. O privilégio dos que são “de fora”.
6 – Governo sem comando central
Em diversos textos abordei tal questão. Valmir não governava ou se fizesse tal ação, era de longe, à distância, acompanhando em segundo plano o que estava sendo realizado. Existia um núcleo gerencial, o prefeito acompanhava e autorizava as deliberações. Não existia a sua presença, sua condução. Isso politicamente é ruim, arranha a imagem. A população espera no prefeito, participação, liderança, ação e fiscalização efetiva de seus subordinados. Uma gestão no “piloto automático” é mal avaliada.
7 – Falta de carisma do prefeito
Este ponto o levantei respeitando o perfil. Valmir Mariano não é político e nem sabe fazer política. Trato desta questão há dois anos. Mesmo não tendo como característica ser carismático, deveria ter sido melhor trabalhado isso. Foram quatro anos para que essa “qualidade” pudesse ter sido melhorada, embutida no prefeito, mesmo de forma superficial. Valmir se fechou em seu espaçoso gabinete e estava nas ruas esporadicamente, quando, por exemplo, tinha que inaugurar obras. Não tinha boa comunicação (oratória péssima). Repito, não estou criticando o prefeito por não ter essas características, que são importantes a uma pessoa pública. Isso é do perfil de cada um. Critico aos que não o tornaram menos ruim nas questões apresentadas.
8 – Denúncias de corrupção
O governo Valmir foi atingido em cheio com uma avalanche de denúncias de suspeitas de desvios de verbas públicas e desmando na gestão em prol de interesses pessoais dos que estavam à frente de pastas e órgãos públicos. A operação “Filisteus”, o Gaeco, Ministério Público (MP), estavam quase permanentes em Parauapebas, criaram um desgaste muito grande a imagem do mandatário municipal e de sua gestão. Seus adversários fizeram bom uso das situações negativas. O processo ainda prossegue, mas sem avanços.
9 – Crise econômica
Não há como negar que a atual crise econômica vivida por Parauapebas, como a baixa cotação do minério de ferro no mercado internacional, ocasionou queda significativa na arrecadação, o que tornou a administração da máquina municipal e o atendimento de demandas mais complicado. Aliado a isso, a falta de habilidade fiscal e descontrole dos gastos, fazendo com que a prefeitura deixasse de cumprir seus compromissos com prestadores de serviços e contratos em dia. O termo “caloteiro” foi muito vinculado a imagem do prefeito Valmir na campanha eleitoral.
10 – Falta de cumprimentos de acordos e instabilidade em decisões
Uma das principais marcas do governo Valmir. O próprio prefeito ficou marcado por decidir e depois voltar atrás de suas decisões. Outra marca negativa que pesa na avaliação da sociedade.
11 – Alta rejeição
Vinha afirmando desde o início do ano corrente que a rejeição ao prefeito Valmir era alta e que isso seria um grande obstáculo ao seu processo de reeleição. Quem trabalha em campanha política sabe que mesmo com bom marketing e peças publicitárias bem construídas, rejeição é um desafio, voto quase perdido. A campanha eleitoral do prefeito foi muito bem feita, a melhor. Isso refletiu em diminuição da rejeição e aumento da porcentagem das intenções de votos, mas não foi o suficiente para vencer o pleito.
12 – Falta de comunicação institucional
Neste quesito, o governo Valmir errou muito. A relação com a imprensa local não foi bem costurada. A Ascom pecou em muitas situações. Se resumiu ao envio de matérias aos rementes da imprensa. Não promoveu melhor relacionamento e a exposição de obras do governo foi muito deficiente. Melhorou no último ano com o reforço de pessoas de Belém. Isso é comprovado na prática. Um governo que fez muito, mas perdeu eleição e manteve alto índice de rejeição.
Finalizei em 12 pontos. Claro que poderiam ter sido mais, até mesmo quem ler esse artigo vai apontar ausências, mas penso que essa uma dúzia reflete bem, de modo geral, o processo como um todo. Meu objetivo é promover reflexão sobre a gestão pública e a relação de poderes em Parauapebas. De resto, é politicagem gratuita.
Imagem: reprodução Internet.