Alguns minutos para as doze horas de uma sexta-feira, 25 de janeiro de 2019, momento em que a barragem da Mina Córrego do Feijão rompeu e provocou uma avalanche de lama ao despejar 11,7 milhões de metros cúbicos de rejeitos. A barragem localizava-se próxima ao município de Brumadinho, 57 quilômetros da capital Belo Horizonte. Assim como ocorrido em Mariana, quase quatro anos antes, um mar de lama cobriu a área administrativa da Vale, o povoado, estradas e o rio mais próximo.
O desastre humano foi maior por conta do horário do rompimento da barragem, próximo ao meio-dia, portanto, intervalo para o almoço. Muitos funcionários estavam no restaurante, a primeira estrutura ocupada a ser atingida pelos rejeitos. Não, por acaso, infelizmente, foi lá que ocorreu a maior concentração de mortos. A tragédia completou ontem, 26, três anos. O fato levantou – mais uma vez – a discussão sobre a segurança de barragens no Brasil. Brumadinho foi o segundo rompimento em Minas Gerais em um intervalo de pouco mais de três anos (rompimento da barragem em Mariana, em 2015, e o citado). No Brasil, atualmente há cerca de mil barragens, segundo levantamento da Agência Nacional de Águas (ANA).
Segundo o citado órgão, são mais de 700 barragens consideradas de “alto risco” em todo o território nacional; outras 45 estão com as estruturas comprometidas. Quantas tragédias como as de Brumadinho e Mariana poderiam ter sido evitadas, se as normas de segurança ou até mesmo esse tipo de construção não fosse rotina na mineração?
Pouco tempo após a tragédia, através de investigações, descobriu-se que a Vale foi alertada sobre falhas nos procedimentos de controle e manutenção da barragem que se rompeu em Brumadinho, porém, omitiu informações para a população. Em seu Relatório de Impacto Ambiental, apresentado em 2017, a empresa cortou uma tabela importante que alertava para os riscos, produzida em cima de outro, o de 2015. O referido documento de dois anos antes, é o mesmo que serviu de base para a versão mais atual antes da tragédia ter ocorrido, apresentado sem as informações sobre os riscos da barragem.
Os problemas na estrutura da mina Córrego do Feijão foram identificados por uma consultoria contratada pela mineradora, a empresa Nicho Engenheiros Consultores Ltda, com sede em Belo Horizonte, e com atuação no mercado desde 1990. O site Intercept à época conversou com o dono da Nicho, o engenheiro Sérgio Augusto da Silva Roman, que assinou o estudo de impacto de Brumadinho como responsável técnico. A Vale precisava dos laudos para expandir a mineração em Brumadinho.
Indenizações
Desde 2019 foram firmados 680 acordos que envolvem 2,4 mil pessoas, informou a companhia. Isso não significa que novos acordos com familiares não possam ser fechados. O colapso da barragem despejou uma onda de rejeitos de mineração, que deixou um total de 270 mortos, sendo 250 funcionários, ao atingir instalações da própria empresa, comunidades, rios e florestas.
As indenizações individuais não foram incluídas em um grande acordo de R$ 37,69 bilhões homologado este ano entre Vale e autoridades, que encerrou ações coletivas movidas na Justiça relacionadas a danos socioeconômicos e socioambientais. No total, segundo a empresa, foi firmado até agora um total de 5,5 mil acordos individuais, entre cíveis e trabalhistas, o que resultou no desembolso de mais de R$ 2,4 bilhões. Segundo matéria do site G1, tendo como base informações repassadas pelo Poder Executivo estadual mineiro, este é o maior acordo já realizado na história do Brasil.
Causas da tragédia
Em outubro de 2021, um estudo realizado e divulgado pelo Centro Internacional de Métodos Numéricos em Engenharia (CIMNE), entidade vinculada à Universidade Politécnica da Catalunha (UPC), apontou que o rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão foi ocasionado devido a uma operação de perfuração que estava sendo feita na represa na data do sinistro. O estudo foi feito a pedido do Ministério Público Federal de Minas Gerais (MPF-MG). O assunto foi à época divulgado pela Folha de São Paulo.
A grande imprensa já deixou o caso de lado. Outras pautas assumem a dianteira. Brumadinho torna-se rapidamente passado, com cada vez menos cobertura jornalística. É exatamente Mariana sendo atualizada da pior forma possível. E, assim, como na primeira tragédia, em 2015, a que completou ontem (25) três anos, novamente voltará a cair no esquecimento, sem que todos os responsáveis sejam punidos. Melhor para a Vale. Vida que segue para a segunda maior mineradora do mundo.