Um Mês da Tragédia em Brumadinho, a triste atualização de Mariana

Passava alguns minutos do meio-dia da sexta-feira, 25 de janeiro, quando a barragem da Mina Córrego do Feijão rompeu e provocou uma avalanche de lama ao despejar 11,7 milhões de metros cúbicos de rejeitos. A barragem localizava-se próxima a Brumadinho, 57 quilômetros de Belo Horizonte. Como em Mariana, em 2015, um mar de lama cobriu a área administrativa da Vale, o povoado, estradas e o rio.

O desastre humano foi maior por conta do horário do rompimento da barragem, próximo ao meio-dia, portanto, hora de almoço. Muitos funcionários estavam no restaurante que foi atingido pelos rejeitos. Foi lá que ocorreu a maior concentração de mortos, e ainda há muitos corpos no local.

Ontem, 25, completou um mês do desastre. Depois de 30 dias de buscas, 179 corpos foram identificados. Ainda há 131 pessoas desaparecidas. Segundo informações do Portal IG, as buscas mudaram de caráter, mas continuam intensas e mais tecnológicas. Segundo o Corpo de Bombeiros, a lama secou e agora precisa-se fazer muitas perfurações, o que torna indispensável o uso de maquinários.

A tragédia também levantou a discussão sobre a segurança de barragens. Este foi o segundo rompimento em Minas Gerais em pouco mais de três anos. No Brasil, há cerca de mil barragens. Por recomendação da Agência Nacional de Mineração (ANM), o Ministério de Minas e Energia definiu uma série de medidas de precaução de acidentes.

As medidas anunciadas pelo governo federal devem começar a ser colocadas em prática imediatamente e toda a adequação deve se dar até 2021. Uma das alterações é que todas as barragens no estilo “a montante”, mais barato e inseguro, devem ser extintas ou descaracterizadas. Tanto a barragem que se rompeu há um mês, quanto a da Samarco, em Mariana, eram deste modelo.

A dimensão dessa tragédia anunciada, resultado de um modelo de mineração predatório adotado pela Vale, é também ambiental. Não há mais possibilidade de vida no rio Paraopeba ou até mesmo em suas margens. Suas águas claras, após o crime da Vale, se tornaram um mar de lama. O Rio Doce, mesmo após três anos, ainda é poluído e improprio para uso. No caso de Mariana, quem foi responsabilizado? Os impactos sociais e ambientais, foram contornados? Para as duas perguntas – infelizmente – a resposta é não.

Mais de 700 barragens são “de alto risco” no Brasil e outras 45 estão com as estruturas comprometidas. Quantas tragédias como a de Brumadinho e Mariana poderiam ser evitadas? Até quando tantas pessoas ainda serão vítimas desse modelo de mineração que privilegia o lucro em detrimento de todas as formas de vida?

E a grande imprensa já deixou o caso de lado. Outras pautas assumem a dianteira. Brumadinho torna-se rapidamente passado, com cada vez menos cobertura. É exatamente Mariana sendo atualizado da pior forma possível com o ocorrido em Brumadinho. E assim como o ocorrido há três anos, novamente voltará a cair no esquecimento, sem que os responsáveis sejam punidos. Melhor para a Vale.

Henrique Branco

Formado em Geografia, com diversas pós-graduações. Cursando Jornalismo.

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