Uma década de sala de aula

Em diversos artigos sobre Educação, em especial ao Dia do Professor, sempre os produzir de forma crítica. Utilizava a referida data para externar, desabafar sobre a vida docente no Brasil. Era um mar de lamentações. Desta vez, não irei escrever criticamente, como de costume. Não desta vez. E explico. Em 2019, completo 10 anos em sala de aula. Uma década de exercício docente. Portanto, quero neste momento, agradecer.

Há dez anos eu começava a ministrar aulas. Lembro-me como se fosse hoje a primeira vez em que pisei em uma sala de aula. E comecei como a maioria, em escolas pequenas, nos primeiros anos do ensino fundamental. As pernas tremiam, a voz engasgava e olhava para os alunos e nem sabia o que fazer e nem por onde começar. E nem deveria ter ficado daquele jeito, pois havia passado por um períod de estágio supervisionado no último ano da faculdade, em que o estudante começa (com a supervisão de um professor) a ter contato na prática com a sala de aula. Ali, naquele momento, é avaliado o manejo de sala, domínio de conteúdo, didática e os recursos utilizados. E, modéstia a parte, sempre fui bem nesses quesitos. Mas como se diz no jargão futebolístico: “treino é treino, jogo é jogo”. 

E o dia do “jogo” chegou. A minha primeira aula foi um desastre. Sabia o conteúdo (sub-regiões nordestinas), e havia estudado o tema no dia anterior. Queria arrasar, mas fui arrasado. Sai daquele expediente achando que havia escolhido a profissão errada e que não iria ter êxito. Mas vi que aquele descontrole emocional era natural para uma pessoa que vivia pela primeira vez aquela experiência. E que o nervosismo é parte do processo, do próprio ser humano, quando se defronta com algo novo, esperado e de grande expectativa. Gradativamente essa ansiedade foi sendo “domesticada”, e o que veio a seguir foi só o crescimento profissional. Escolas maiores vieram, coordenação, até chegar ao ensino público, depois de anos como contratado, enfim concursado.

Dez anos se passaram, foram rápidos. Nesse tempo carrego comigo a experiência, o amor pela profissão e, apesar das dificuldades, o orgulho em ser professor. O ofício em sim não se resume em ensinar, como se pensa popularmente. É muito além do que isso. Nesses dez anos aprendi a amar, a buscar entender a complexidade que é o ser humano. Lido todos os dias com centenas e centenas de pessoas, que pensam e agem diferente. Em uma década conheci o melhor e o pior de muitos alunos. Vi os que venceram, conseguiram chegar aos seus objetivos, aos que estão ainda no caminho, e os que não conseguiram. E pior: os que nem estão mais aqui. Tudo isso nos molda também como ser humano. Tiver o privilégio nestes dez anos de trabalhar com todos os níveis socioeconômicos e idade de alunos, em todos os tipos de instituições de ensino, desde as mais elitizadas as mais simples. Uma experiência de vida imensurável. 

Em um país em que o professor só está em evidência na data de hoje, 15, é um desafio todos os dias exercer tal profissão. Ainda estamos muito longe de níveis de reconhecimento de países desenvolvidos, que tem o professor como figura central da sociedade, bem diferente daqui. Precisamos valorizar, garantir melhores condições de trabalho e remuneração. E não perseguir, acusar. Jogar ao professor a responsabilidade de educar. Como bem disse Cortella: “O professor não educa, ele escolariza. Quem educa são os pais”. 

Hoje, posso dizer que influencio e sou influenciado. Faço grande reverência aos melhores professores que tive, e que me inspiraram a segui-los. Há três anos tive uma experiência incrível: reencontrei dois ex-alunos, e que já estavam na universidade. E, para a minha surpresa, ambos cursavam geografia, e para a minha felicidade, me disseram que estavam cursando licenciatura por minha influência. Então, a vida é assim. Seguimos e somos seguidos. Somos fonte de inspiração e também nos inspiramos em outras pessoas. O importante é ser bom em fazer aquilo que se propõe a seguir profissionalmente. E só se consegue fazer isso, inspirar pessoas, quando se faz com amor, com gosto.  

Então, torçamos para que a cada dia o professor seja mais valorizado, assim como a educação de forma geral. No meu caso, uma década se passou, que outras possam vir. Importante, acima de tudo, é fazer o que se gosta. No meu caso, faço. Me sinto realizado e um ser humano mais completo, justamente por ser professor. Obrigado a todos os meus ex-alunos, alunos e os que ainda serão. Sempre, Avante. 

Henrique Branco

Formado em Geografia, professor das redes de ensino particular e pública de Parauapebas, pós-graduado em Geografia da Amazônia e Assessoria de Comunicação. Autor de artigos e colunas em diversos jornais e sites.

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