Estamos a 99 dias do maior evento climático realizado no Norte do Brasil. Em pouco mais de três meses, cerca de 148 países enviarão seus representes a Belém. Não é de hoje que se acompanha movimentos que visam retirar a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, em sua trigésima edição, da capital paraense.
O primeiro discurso foi referente à infraestrutura, esta focada na falta de saneamento básico. Com a perda da força desta justificativa, o ponto seguinte e atual imbróglio: acomodação. Ou seja, falta de leitos na rede hoteleira. Atualmente, esse quantitativo está em 36.015 leitos disponíveis, distribuídos entre hotéis, aluguel por temporada, e até navios de cruzeiro(opção encontrada para ampliar a capacidade). Desse total, 14 mil leitos estão na capital e outros na região metropolitana.
Nunca foi surpresa as limitações e os problemas históricos que Belém apresenta. Todavia, ao ser escolhida, se quis trazer a discussão sobre o clima e sustentabilidade para “dentro” da floresta tropical mais importante do mundo. Quer se mostrar in loco os desafios de uma metrópole amazônica, além de suas características peculiares.
Fazer um debate sobre o clima em ambientes palacianos, longe dos locais mais impactados é camuflar a realidade ou, ao menos, promover um debate longínquo da realidade. A comunidade internacional precisa se fazer presente no local, como no caso de Belém. Uma COP não é um passeio em shopping, um desfile de marcas ou um evento hollywoodiano. Sua finalidade é debater e mais do que isso: propor ações e saídas para mitigar os problemas climáticos ainda reversíveis. Debater em uma maloca pode ser muito mais produtivo do que em um prédio luxuoso nos Alpes suíços.
Belém é também Brasil. Mesmo assim, grande parte da mídia trabalhou contra, a mando de interesses de outras cidades, para que o evento fosse transferido para outra cidade. Não diferente também foi a postura internacional, que buscou levar a trigésima edição da COP30 para outros continentes. Belém nunca foi aceita. Fica claro o preconceito, a xenofobia, o preconceito regional contra o Norte.
Se tais pressões não fossem o bastante, há um grave problema interno, na “cozinha” do evento: a abusividade nos preços cobrados nas diárias. Valores que foram reajustados em mais de 100 vezes. Como bem dito em outro artigo por Heber Gueiros, em que tratou da “mão invisível” do mercado, a mais celebre frase do economista escocês Adam Smith.
Muitos reclamam da alta nos preços, todavia, são os mesmos que defendem arduamente que o mercado seja livre, que se permita que o mesmo se “ajuste”, que não se tenha interferência de governos. Os que hoje reclamam e que usam isso como desculpa para retirar de Belém a oportunidade de sediar esse importante evento, continuam a cobrar uma economia cada vez mais livre.
Belém está avançando, diminuindo os seus gargalos históricos de infraestrutura. Mais de quatro bilhões em recursos que vieram dos governos federal, estadual e municipal, começam a mudar a realidade de diversos pontos da capital paraense, não só nas áreas que estão instalados os equipamentos que receberão as autoridades internacionais, mas também na periferia, mudando a realidade de milhares de pessoas. Esse é o legado local. Ao mundo será o de promover ações afirmativas em favor da vida global.
Queira ou não, a COP30 será em Belém. A capital do Pará mostrará ao mundo sua realidade, seus desafios e seus avanços. Não se pode permitir que o debate sobre o clima deixe de ser feito na região considerada o futuro da humanidade. O resto são as palavras que compõe o título deste artigo.
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