No fim do mês de abril de 2017, o mercado financeiro foi comunicado que a Vale definiu o seu novo diretor-presidente, em substituição a Murilo Ferreira, cuja a saída já havia sido anunciada com bastante antecedência. O escolhido foi Fábio Schvartsman, CEO da Klabin, definido através de um longo e detalhado processo de seleção, conforme anunciado pela própria mineradora. A Vale decidiu contratar empresa internacional de seleção de executivos, a famosa Spencer Stuart, para ajudar no processo de escolha de seu novo mandatário.
O céu
A primeira medida foi a de expandir os seus negócios mirando oportunidades de fusões, aquisições e estratégias para diversificar o seu portfólio; buscando diminuir a forte dependência do minério de ferro. Na época, Fábio, afirmou: “Apesar da alta qualidade dos ativos de minério de ferro da companhia e da alta lucratividade dessa unidade de negócios, o fato de todos os ovos estarem na mesma cesta é um importante risco de longo prazo para a companhia”. A Vale também contratou a consultoria Falconi para avaliar sua matriz de custos e identificar potenciais cortes; o que foi ocorrendo no decorrer do ano passado.
O ano de 2017 foi fundamental para que Schvartsman pudesse realizar o seu maior objetivo: além de significativos cortes no custeio (com elevado nível de desligamentos funcionais) e paralisação na política de investimentos; a mineradora viu os seus balanços trimestrais baterem recordes, com grande contribuição da antecipação do aumento da produção do S11D, em Canaã dos Carajás.
Com as medidas realizadas, o nível de endividamento fechou o ano de 2017 na casa dos 17 bilhões de dólares, acima da meta pretendida de US$ 15 bilhões. Para 2018, a meta seria fechar o ano em 10 bilhões de “verdinhas americanas” de montante de dívida. Conforme divulgado pelo jornal “Valor”, atualmente a dívida da Vale está em US$ 11,5 bilhões (com atualização até o dia 30 de junho). Portanto, deve ter ficado abaixo da meta para 2018, o que é um grande feito, ainda mais para Schvartsman, que tinha como função principal ao assumir o comando da mineradora, a diminuição gradativa do endividamento, até chegar próximo de zero.
Para completar o cenário favorável aos seus acionistas, a Vale anunciou ao mercado que iria comprar (na verdade, recomprar) ações no montante de US$ 1 bilhão no decorrer de um ano de 2018, portanto, com média de recomposição acionária na ordem de 120 milhões de dólares a cada 30 dias. Essa ação de recomprar ativos acionários não acontecia desde 2011, fruto – segundo informações do referido jornal – de um caixa livre na ordem de 3,1 bilhões de dólares, o maior dos últimos dez anos.
No decorrer de 2018, a Vale continuou se valorizando, alicerçada na redução de custos, inclusive na produção, como no caso do S11D. Isso tudo só foi possível – conforme o que escrevi em 2017 – porque a empresa está cada vez menos dependente do minério de ferro, além de promover a expansão de seu portfólio para diversas áreas. A Vale é uma mineradora, cada vez menos mineradora.
Até o momento em termos de balanço contábil, só se conhece até o terceiro trimestre de 2018. O quarto período trimestral, assim como o balanço geral do ano passado só será conhecido nas próximas semanas. E deverá ser comemorado. Os objetivos traçados (muitos deles já expostos neste texto) estão sendo atingidos se não em sua totalidade, mas estão dentro das metas planejadas. A tragédia de Brumadinho não terá efeito sobre os números que serão divulgados, mas serão devastadores para o andamento do ano corrente, assim como para o futuro da Vale.
O Inferno
“Seria preciso um cataclismo para abalar o cenário da Vale.” Essa forte declaração, que virou manchete nos principais veículos do país, foi dada pelo presidente da mineradora multinacional Vale, Fabio Schvartsman, há exatos seis meses. No dia 26 de julho, ele participou de uma teleconferência com investidores e divulgou as conquistas pujantes da maior produtora de minério de ferro de alto teor do globo durante o trimestre encerrado em junho, bem como externou as expectativas para os trimestres seguinte, segundo recorte tirado do Blog do Zé Dudu.
Se os dois anos anteriores foram de grandes avanços aos interesses da mineradora, o de 2019 e os próximos dois (pelo menos), deverão ser muito difíceis. A começar pela imagem completamente arranhada que a Vale terá que conviver nos próximos meses. O mercado financeiro nos últimos dois dias já demonstra a incerteza sobre o futuro da mineradora. As ações da Vale caíram 10% na Bolsa de Valores de Nova York. No Brasil, ainda não foi possível mensurar essa queda, haja vista, que a Bolsa de Valores estava de recesso por conta do feriado em São Paulo. Amanhã (28), se poderá ter um parâmetro, que não deverá ser nada otimista sobre as ações da Vale no mercado brasileiro.
Haverá uma forte retração de capital na Vale. E isso será o resultado de perda acionária, multas a serem pagas, indenizações, diminuição da produção nos locais próximos a tragédia. A expansão de projetos e o início de outros, como na região de Carajás, passam a orbitar no âmbito da incerteza. Portanto, o ano de 2019 será muito difícil e colocará à prova o trabalho de Fábio Schvartsman. Uma de suas plataformas de trabalho era justamente a sustentabilidade, um dos pilares de seu discurso de posse ao chegar ao posto mais importante da Vale.
O cataclismo chegou. A Vale foi do céu ao inferno em poucas horas. E agora Schvartsman?