Com a passagem da euforia de uma vitória esmagadora para os padrões americanos – mesmo com o processo ainda em curso, faltando contar alguns milhares de votos -, pois venceu no colégio eleitoral (conquistando 295 delegados, bem acima do mínimo de 270) e no voto popular (quase cinco milhões de votos de diferença), Donald Trump retornará à Casa Branca com moral. Sua vitória maiúscula impressionou os analistas políticos mais experientes. A chance de vitória era real, todavia, se esperava um cenário mais rivalizado com democrata Kamala Harris.
Nas chamadas eleições de meio de mandato, que ocorreram em 2022, e que o partido Republicano perdeu espaço no parlamento, se pensava que a chance de Trump (à época acoçado por diversos processos na Justiça, com possibilidade de prisão) eram pequenas. Apesar do governo Biden ter baixa popularidade, esperava-se que o atual presidente – caso concorresse – se reelegesse. A desistência de Joe, com o lançamento de Kamala criou mais esperança nos democratas. Ela negra, com entradas em diversos segmentos menos favorecidos, com uma agenda mais inclusiva, seria imbatível nas urnas.
A questão que ajuda a explicar este surpreendente desempenho nas urnas de Trump foi uma estratégia muito bem montada em favor do republicano. Primeiro ponto ou medida foi a de restruturar coalizações, ou seja, buscar aliados para além da “bolha trumpista”. Segmentos alinhados com o Partido Democrata, como famílias sindicalizadas, trabalhadores assalariados e homens negros e latinos, entraram na agenda de Trump de forma que não perdesse apoio dos mais conservadores, seus eleitores mais fieis. Se avançou também sobre o eleitorado mais jovem, tradicionalmente democrata. Até o eleitorado árabe, que tem repulsa em relação aos candidatos republicanos, Trump obteve votos muito acima de qualquer previsão.
O resultado impressiona. Desde 2004 que um republicano não ganhava no voto popular. A estratégia foi “amansar” o candidato republicano. Ganhar apoios e votos de segmentos que não eram alinhados com os republicanos. Trump foi disciplinado. Sua postura e discurso estavam mais integracionistas e menos segregadores. Vale lembrar que essa estratégia foi reforçada com um cenário favorável aos republicanos: sociedade americana atormentada pela inflação; frustrada por anos de má gestão da imigração e, finalmente, preparada para a mudança.
Na verdade, Kamala “carregou nas costas” um governo impopular e o medo de continuísmo (fato amplamente explorado pelos republicanos). Dentro do partido Democrata, por exemplo, há uma numerosa ala que cobra fortemente Joe Biden em relação a demora em desistir de disputar a reeleição e ter cometido “deslizes narrativos” durante a campanha.
C0P-30
Como é sabido, ano que vem a cidade de Belém sediará a COP-30. A primeira conferência sob a gestão Trump, reconhecidamente um negacionista climático. Portanto, como ficará a postura norte-americana em relação à sustentabilidade? O presidente eleito se fará presente, por exemplo, ao evento na capital paraense? O republicano se posiciona de forma muito crítica em relação aos relatórios que apontam total desequilíbrio ambiental do planeta. Trump, é sim um negacionista climático. A questão é: irá rever sua postura? A conferir.
Política internacional
Tradicionalmente, os republicanos no poder tendem a promover uma política externa mais agressiva. No Oriente Médio, por exemplo, apoiam irrestritamente as ações israelenses, mesmo que sejam caracterizadas como genocidas, como é o caso mais recente na Faixa de Gaza. A rivalidade com a China poderá, quem sabe, escalar novo nível. Em relação à América Latina, maiores restrições deverão acontecer. A relação diplomática com o Brasil é uma incógnita.
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