Não chega a ser novidade a relação muito próxima que sempre existiu entre o ex-presidente Jair Bolsonaro e integrantes do alto escalão das Forças Armadas, especialmente em sua gestão como presidente da República. Não, por acaso, muitos militares, especialmente do Exército, ocupavam cargos em áreas fora do escopo da segurança pública e das ações e responsabilidades militares. Também nunca foi novidade a animosidade das Forças Armadas para com Lula. Vale registrar que durante as suas duas primeiras passagens pelo Palácio do Planalto, o petista foi quem mais investiu na combalida infraestrutura dos militares.
Os atritos ocorridos entre as forças de segurança no fatídico oito de janeiro de 2023, deixavam claro a resistência ao novo governo, instigando os bolsonaristas a resistirem e não aceitarem o resultado das urnas. O governo Lula 3 começava sob pressão e a indefinição de como se comportaria as Forças Armadas na gestão petista, com setores altamente resistentes ao novo ocupante do Palácio do Planalto.
O que, talvez, nunca se imaginou é que dezenas de militares estavam planejando a morte de altas autoridades da República, como a de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), um presidente da República e de seu vice-presidente, ambos eleitos democraticamente. Que ainda a ação golpista incluiu o uso de artefatos explosivos, armamento pesado, envenenamento por uso de substâncias químicas, e outros procedimentos que ainda estão sendo investigados pela Polícia Federal.
Ao todo, a Operação Contragolpe da Polícia Federal, prendeu cinco pessoas suspeitas de planejar matar o presidente Lula antes de sua posse, além do crime de organização criminosa. O Congresso incluiu esses dois crimes no Código Penal em 2021. O artigo 359-L prevê punição de 4 a 8 anos de prisão para quem tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o estado democrático de direito. Já o artigo 359-M estabelece pena de 4 a 12 anos para quem tentar depor, por meio de violência ou grave ameaça, o governo legitimamente constituído. Nos dois casos, o texto que define o tipo penal começa com o verbo “tentar”.
No início das investigações até o dia que foi deflagrada a citada operação, ainda não se tinha a dimensão da participação do ex-presidente Jair Bolsonaro. Ao se ter acesso ao conteúdo, antes sigiloso, mas que foi tornado público ontem, 26, pelo ministro Alexandre de Moraes, se conseguiu ter a noção do papel de cada um preso, além dos que cercavam o ex-mandatário nacional.
O golpe de Estado estava em curso. Diversas tratativas foram feitas, com inclui uma minuta com procedimentos e etapas de como seria realizada a queda do regime democrático. Das três Forças, a Marinha aderiu à iniciativa golpista, ficando à espera das ordens de execução e o formato de sua atuação. A data marcada para a execução do plano foi o dia 15 de dezembro de 2022. Já os comandantes da Aeronáutica e do Exército avisaram que não embarcariam na “aventura” golpista.
A trama teve enredo de filme de ficção científica, que por pouco não foi efetivada. Faltou por parte de seus organizadores a confiança do apoio incondicional das Forças Armadas, o que não aconteceu, para a sorte da democracia brasileira. Conforme escrito em outro artigo sobre o tema: “dar um golpe de Estado é fácil, difícil é mantê-lo”. Se caso a trama golpista tivesse tido êxito, ou seja, tivesse abolido o Estado Democrático de Direito, o que aconteceria no dia seguinte, ou seja, o Day After do golpe? Com certeza, não teria apoio internacional.
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