Bolsonaro x Governadores. O Pacto Federativo em questão

Em carta divulgada pelo Fórum Nacional de Governadores na última segunda-feira (3), na qual 23 – dos 26 governadores de Estado e mais o do Distrito Federal -, se posicionam sobre a destinação das receitas oriundas do recolhimento de impostos federais sobre a venda de combustíveis, como ICMS (Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação), Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) e Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico).

Na carta, enviada ao presidente da República, Jair Bolsonaro, os governadores se manifestam a favor da redução dos preços dos combustíveis, mas querem que o assunto seja amplamente debatido em “fóruns institucionais adequados e com os estudos técnicos apropriados”.

Os governadores ressaltam a autonomia dos estados, argumentando que a Constituição Federal determina que o ICMS é a principal receita no âmbito estadual “para manutenção de serviços essenciais à população”, entre os quais saúde, segurança e educação. “O ICMS sobre combustíveis deriva da autonomia dos estados na definição de alíquotas e responde por, em média, 20% do total da arrecadação deste imposto nas unidades da Federação”, diz a Carta. Os governadores ressaltam, ainda, que 25% do ICMS são repassados aos municípios.

Os chefes de Executivo frisam na carta que não cabe ao Governo Federal definir “tributação sobre o consumo”, e argumentam que diante do impacto de quase 15% nos preços dos combustíveis pagos pelo consumidor, a União “pode e deve” abrir mão, imediatamente, das receitas advindas do PIS (Programa de Integração Social), Cofins e Cide resultantes de “operações com combustíveis”.

O conteúdo acima foi publicitado pela Secretaria de Comunicação do Governo do Pará (Secom), sendo a matéria prima deste artigo de opinião sobre um tema polêmico e que agora parece ter tido outros desdobramentos. Como dito no início da matéria, os governadores resolveram divulgar uma carta após o encerramento de mais um encontro entre os mandatários estaduais. O documento tem como proposta pressionar o Governo Federal para abrir mão, imediatamente, das receitas advindas do PIS (Programa de Integração Social), Cofins e Cide resultantes de “operações com combustíveis, pois, segundo eles, não caberia a União tributar sobre o consumo. Segundo dados na carta, sem os tributos federais, o preço final dos combustíveis ao consumidor cairia em torno de 15%.

Como o modus operandi do bolsonarismo – já exposto aqui exaustivamente – é o confronto, o presidente Jair Bolsonaro não perdeu tempo e replicou a questão em direção aos governadores. Em seu “parquinho” (local na entrada do Palácio do Planalto em que o presidente fala aos apoiadores e jornalistas), desafiou os mandatários estaduais, ao afirmar que zera os tributos federais, se eles – os governadores – zerarem o ICMS.

Obviamente que a narrativa do presidente não tem o mínimo de coerência e senso de realidade. Caso não saiba ou se sabe, desconsiderou para fortalecer a sua narrativa de ataque, o ICMS corresponde a mais da metade da arrecadação dos entes federativos brasileiros. Em alguns casos, chega a 75% de tudo o que se arrecada. No Pará não é diferente. De acordo com as informações da Secretaria de Estado de Planejamento (Seplan), se arrecadou quase R$ 11 bilhões só com o referido tributo. 

Como zerar um imposto que praticamente mantém as máquinas estaduais funcionando? Ainda mais em um estado que desde 1996, quando aprovou-se a Lei Kandi, deixou de arrecadar até o ano passado 21 bilhões de reais, por não poder tributar a sua maior riqueza: a mineração, como é o caso do Pará. O Governo do Pará tornou público a sua aceitação em zerar o ICMS (postado em redes sociais) sobre os combustíveis, desde que possa taxar a extração mineral em 6,6%. E ai, Governo Federal e Congresso Nacional, topam?

A retórica em formato de desafio do presidente é a forma que sempre utiliza ao ser questionado. Sabe que, neste caso, os governadores não podem aceitar o desafio, ou melhor, comprar a briga. O próprio Governo Federal, caso o presidente realmente eliminasse as tributações federais que incidem sobre os combustíveis, deixaria de arrecadar R$ 27 bilhões, valor referente ao que entrou nos cofres da União, em 2019.

O debate reacende a intermitente discussão sobre o pacto federativo e isso em meio a um outro tema polêmico que já passou da hora de ser enfrentado: a reforma tributária. O cabo de guerra começou. Mais uma faísca produzida pelo modus operandi do bolsonarismo, agora diretamente pela voz de seu maior líder.  

Henrique Branco

Formado em Geografia, com diversas pós-graduações. Cursando Jornalismo.

#veja mais

“Dia D” para Jatene

Hoje os deputados estaduais estarão julgando as contas do ex-governador Simão Jatene, referente ao exercício de 2018. O tucano sentou na cadeira política mais importante

CMP: Rafael Ribeiro solicita criação de programa para custear reforma em residências de famílias carentes

Dignidade para morar e cuidar de suas famílias. Foi pensando nisso que o Presidente da Câmara, Vereador Rafael Ribeiro, enviou ao Poder Executivo, a indicação

O emblemático 100 dias

Na semana que passou, os governadores (reeleitos ou não), além do Governo Federal, completaram 100 dias de gestão. Aos que assumiram pela primeira vez há

Gastos em 2023 da bancada federal do Pará

Em mais uma matéria exclusiva, o Blog do Branco, torna público as despesas da bancadas federais do Pará no ano de 2023. No geral, foram

Brasil secando

O título deste artigo é muito mais do que simplesmente uma força de expressão. De fato, o Brasil está literalmente secando. Os dados são alarmantes

Inflação na Alemanha cai para 2,3%, nível mais baixo em quase três anos

A inflação na maior economia da Europa diminuiu para 2,3% na base anual, seu nível mais baixo desde junho de 2021. Os preços ao consumidor