Bolsonarismo intermitente

Bolsonaro foi derrotado, mas o Bolsonarismo não. Esta é a avaliação do psicanalista Christian Dunker, professor titular do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) e escritor. “A gente precisa olhar para o Bolsonarismo como uma face do Brasil”, afirma. Na análise de Dunker,  apesar da vitória de Lula, o Bolsonarismo vai persistir.

Escrevi recentemente sobre isso e concordo com as observações do citado mestre. Jair Bolsonaro foi, é, e será apenas um instrumento de ação, um líder transitório desse movimento, que usa o seu sobrenome. Em uma imperdível entrevista ao Estado de Minas, Dunker deixou claro que é “importante entender que o discurso prescinde do personagem”. E continuou: “na ausência de Bolsonaro, vai se por outro, daqui a pouco vem outro. E, por isso, a dificuldade de transformação. Não é assim: ‘aceita que o Bolsonaro perdeu’. É como a gente desfaz um discurso, que é um processo cultural. É um processo libidinal. É um processo histórico. Quanto tempo demorou para esse discurso se formar? Foram anos e anos”.

Fundamentalismo religioso

Como é sabido, o apoio evangélico a Jair Bolsonaro é extremamente forte. As Igrejas Neopentecostais tornaram-se grande reduto de bolsonaristas. Segundo Christian, “ O Brasil criou um fundamentalismo. Não é o Iraque com o homem-bomba, mas são esses discursos que estão explodindo instituições, estão fazendo pastores ordenarem voto para um ou para outro como se fosse uma madraça, no pior sentido do preconceito”, afirma.

Já sobre o apoio evangélico, o professor explica: “Na outra ponta dessa corda, estão pessoas que recebem da Igreja o apoio que não vem do Estado. Cerca de 60% dos evangélicos, neopentecostais da terceira geração são pobres, 61% são mulheres e 62% são negros. Mas, então, é essa gente que você quer incriminar? Não, pera aí. Temos que fazer um filtro e dizer: ‘olha, aqui tem um processo que está espreitando o sofrimento. Um processo que pega o sofrimento real das pessoas, oferece algo em troca e instrumentaliza em um delírio político’”.

Como explicar, por exemplo, o comportamento dessas pessoas que ainda estão acampadas nas portas dos quartéis, esperando intervenção militar? Para ele, existe uma síndrome que se chama transtorno da loucura compartilhada (Folie à deux). Onde você pode falar de formas de transtornos que não são individuais, são coletivos. A gente tem um processo semelhante acontecendo com o bolsonarismo. Isso é uma forma de delírio. Os casos clássicos de Folie à deux, de loucura compartilhada, são clinicamente sanados com afastamento da pessoa do núcleo irradiante.

Silêncio como método

O silêncio de Bolsonaro é muito inteligente. Ele está esperando para ver onde que o discurso funciona mais, onde a resistência se organiza melhor. Ele está sendo revolucionário como em 1789, a Revolução Francesa. Ele está esperando as massas, onde é que a insurgência popular vai dar mais certo. Tem dois meses até o Lula assumir. Ele está esperando justamente uma brecha para tentar ou reatentar aquilo que ele vem anunciando e tentando fazer, que é um golpe. Um golpe realmente popular. Isso que a esquerda precisa entender: não é um golpe de gabinete, é um golpe que vem de baixo.

Sobres os militares, o professor explica que esse clima de banho-maria para ver se alguém organiza essa insatisfação que está nas ruas. Ele afirma, por exemplo, que no Exército há uma ala importante, formada sob os efeitos da Ditadura Militar, que não quer repetir o erro de 1964. Por outro lado, outra ala que tem ambições políticas. Não se pode olhar para os militares como uma massa uniforme, assim como a gente não deve olhar para os bolsonaristas como uma massa uniforme.

Fica claro, portanto, que, mesmo sem Bolsonaro, o bolsonarismo se manterá vivo. Outro nome surgirá.

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