Dória e o manual do que “não fazer na política”

João Dória poderá ser um dos piores exemplos de carreira política (mesmo o referido não se considerando como tal). Primeiro pelo processo de crescimento e ascensão. Segundo pela derrocada que se submeteu. Há um ano Dória estava eleito prefeito da maior metrópole da América Latina. Três meses antes, seu nome não tinha nem 1% de intenção de voto. Não tinha sequer apoio do próprio partido. O governador Geraldo Alckmin foi quem bancou a sua candidatura contra a vontade de muitos tucanos. O resultado todos conhecem: Dória venceu em primeiro turno a eleição municipal.

O neo tucano tornou-se um fenômeno. Um gestor e não um político, iniciando uma nova forma de fazer política. A vitória foi tão impactante que antes mesmo da posse, diziam que Dória não ficaria na prefeitura de São Paulo até o final do mandato. Já o projetavam para além do Palácio dos Bandeirantes (reduto certo de quem chega à prefeitura da capital paulista), e o colocavam como possível candidato do PSDB à Presidência da República. Pela expectativa de ótima gestão em São Paulo, o Brasil reconheceria em Dória o futuro presidente da nação.

Tudo que foi planejado começou a desandar. Bastou 10 meses de gestão que a expectativa de sucesso foi sendo substituída por uma geral decepção. Primeiro com os paulistanos e depois se espalhou pelo Brasil. Os desmandos, as falhas, decisões erradas, políticas públicas elitistas começaram a minar a imagem de gestor que Dória ostentava. Aliado a isso as infindáveis viagens pelo Brasil e pelo mundo, sem uma agenda definida, ou que nela estivesse os interesses da capital paulista, aprofundaram a insatisfação coletiva em diversas camadas sociais paulistana. Dória no auge de sua ausência (que ainda continua, mas depois das críticas diminuíram) governava pelo celular, sem constrangimentos.

O ápice da crítica foi instauração de alimento granulado produzido pela empresa Plataforma Sinergia, feito à base de alimentos que estão perto da data de vencimento ou aquém dos padrões exigidos nas prateleiras dos supermercados e que tem como objetivo a distribuição às famílias carentes da cidade. Em sua composição nutricional aparecem: proteínas, vitaminas e minerais no composto, como se comer fosse uma simples ingestão de substâncias necessárias à vida, e não o mais básico dos rituais sociais e culturais, essencial à cidadania. A questão teve repercussão negativa mundial. A prefeitura recuou e definiu o alimento apenas como um complemento e não como alimento principal, na merenda escolar, por exemplo.

Conforme a matéria sobre o assunto publicada na revista Carta Capital no último dia 28, fica a pergunta: Antes de demonizar o que veio a ser chamado de “ração humana” por alguns, vale a pergunta: seria São Paulo o local ideal para iniciar a disseminação de um produto voltado para graves casos de desnutrição?

No campo político-eleitoral, a disputa interna no ninho tucano entre Geraldo Alckmin e João Dória que estava tomando forma, com certa vantagem ao prefeito, logo não passou de especulação. Dória se afundou sozinho e se auto sabotou. Hoje não configura na lista dos possíveis presidenciáveis e corre sério risco de nem se lançar ao governo de São Paulo, pois o senador José Serra já mostrou interesse em disputar.

Por um lado, Dória apresentou-se da pior forma possível, especialmente para si, que não é político (segundo o seu mais conhecido jargão), pois cometeu os mais absurdos deslizes para alguém que tinha pretensões bem ambiciosas, de chegar ao posto político mais alto do país.

Segundo fontes ligadas ao prefeito, Dória começa a buscar proximidade com Alckmin, com intenção de formar uma dobradinha, uma chapa tucana pura, sendo vice do governador de São Paulo na disputa presidencial. O que Alckmin não vê com “bons olhos”, haja vista, que isso diminui o seu leque de alianças e consequentemente apoio político. Sendo assim, Dória caminha para ficar quatro anos como “gestor” da capital paulista, algo que ele nunca pensou em exercer por tanto tempo. A prefeitura seria apenas o seu  trampolim político, a exemplo de outros que tomaram tal atitude . Seu ego e interesse político o sabotou. Passou a ser um exemplo do que não fazer na política.

Henrique Branco

Formado em Geografia, com diversas pós-graduações. Cursando Jornalismo.

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