O feito é ainda mais notável quando se sabe que outra mulher, Xóchitl Gálvez, ficou em segundo nas eleições. Outras duas mulheres concorreram à presidência em pleitos anteriores, mas foram derrotadas. O simbolismo da disputa entre elas é grande em um país onde as mulheres conquistaram o direito ao voto apenas em 1953 e onde a violência de gênero é enorme.
As estatísticas oficiais mostram que acontecem, em média, 11 casos de feminicídio por dia naquela que é a segunda maior economia da América Latina, atrás apenas do Brasil. Além disso, dados recentes do Instituto Nacional de Estatística e Geografia revelaram que mais de 40% das mulheres mexicanas com 15 anos ou mais foram vítimas de algum tipo de violência em suas vidas.
Esse será um dos vários desafios de Sheinbaum, uma física com doutorado em engenharia energética e ex-prefeita da vibrante Cidade do México, uma das mais populosas do mundo. Durante a campanha, no entanto, ela não foi muito incisiva com relação às políticas que pretende adotar para a questão de gênero.
Ela se limitou a dizer que iria repetir medidas contra a violência de gênero que foram implementadas quando ela era prefeita da capital, o que inclui a criação do cargo de procurador anti-feminicídio e leis que forçariam os maridos violentos a deixar as casas de suas companheiras. Não disse nada, por exemplo, com relação ao que fará para diminuir o alto desemprego entre as mulheres ou diminuir a diferença de salários para funções semelhantes – com os homens ganhando mais de 25% mais do que as mexicanas em alguns estados.
Além das questões de gênero, ela terá também pela frente dois outros enormes desafios: combater as gangues de narcotraficantes do país e diminuir as desigualdades entre os mexicanos. Seu mentor político, o atual presidente Andrés Manuel López Obrador, foi muito mais bem sucedido no segundo desafio do que no primeiro, retirando milhões de mexicanos da pobreza com diferentes medidas de ajuda social.
Com relação ao narcotráfico, pouco foi feito. As gangues mexicanas estão hoje entre as mais violentas do mundo, controlando a lucrativa rota de fornecimento de drogas aos Estados Unidos. Na campanha, Sheinbaum também foi vaga nas ideias para dar mais segurança aos mexicanos.
Ela apresentou apenas ideias genéricas e bateu muito nos dados de diminuição da violência na Cidade do México desde que ela assumiu. Mas existem sérias dúvidas sobre se ações aplicadas localmente poderiam ter um efeito nacional.
Para o bem de mexicanas e mexicanos, é importante que a vitória da candidata do Partido Morena (Movimento de Regeneração Nacional) se transforme também numa vitória contra o crime organizado.
Com informações de CNN Internacional
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