A concentração de proventos na Bolsa brasileira ficou nítida no primeiro trimestre de 2023. A mineradora Vale realizou o maior corte de dividendos do mundo nesse período, de US$ 1,8 bilhão em comparação com o primeiro trimestre de 2022, e também saiu do ranking das vinte melhores pagadoras do mundo – onde chegou a ocupar o nono e o 15º lugares no passado. Os dados são da 38ª edição do Índice Global de Dividendos da gestora Janus Henderson, publicado em primeira mão pelo site InfoMoney.
O relatório analisa trimestralmente as 1.200 maiores empresas do mundo por capitalização de mercado, que representam 90% dos dividendos distribuídos globalmente. A gestora britânica tem cerca de US$ 311 bilhões em ativos sob gestão. A Petrobras, que foi a segunda maior pagadora de dividendos do mundo em 2022, não entrou no ranking global no primeiro trimestre porque não realizou novos pagamentos de dividendos de janeiro a março. A segunda parcela dos R$ 3,35 anunciados em novembro do ano passado, que foi paga no dia 19 de janeiro, já tinha sido contabilizada pela Janus Henderson no quarto trimestre de 2022. Contudo, a gestora acredita que a petrolífera deve voltar a aparecer no ranking no segundo trimestre, apesar das mudanças na remuneração dos acionistas, por conta dos dividendos pagos em maio e os que virão em junho.
O impacto das outrora boas pagadoras levou os dividendos brasileiros a ter uma queda de 12,2% no primeiro trimestre, totalizando US$ 3,4 bilhões. No mesmo período de 2022, os proventos locais somaram US$ 3,9 bilhões. A Vale distribuiu US$ 1,8 bilhão entre janeiro e março deste ano. Também integraram o ranking o Banco do Brasil (US$ 700 milhões pagos aos acionistas), o Bradesco (US$ 600 milhões), a Weg (US$ 300 milhões) e B3 (US$ 100 milhões). Em termos subjacentes (desconsiderando os efeitos de dividendos extraordinários, da taxa de câmbio e de outros fatores técnicos), as empresas brasileiras apresentaram um tombo de 27,5% nas distribuições.
Os dividendos brasileiros foram na contramão de todo o mundo. Segundo a Janus Henderson, os dividendos globais aumentaram 12% alcançando um recorde de US$ 326,7 bilhões, impulsionados pelo volume de dividendos extraordinários, o maior em nove anos. “A história dos dividendos do Brasil no primeiro trimestre foi de fraqueza e contrastou com o desempenho positivo no resto do mundo”, afirmou Ben Lofthouse, chefe de renda variável global da Janus Henderson. Segundo Lofthouse, isso comprova a concentração de grandes empresas brasileiras pagadoras de dividendos em setores sensíveis a commodities. Ele reforça que os investidores precisam estar cientes desta concentração e considerar a diversificação geográfica dos investimentos para gerar retornos positivos com um portfólio sustentável e duradouro.
No mundo, contudo, foram os bancos, produtores de petróleo e fabricantes de veículos que acabaram impulsionando o crescimento dos dividendos globais no primeiro trimestre. A nível global, 95% das empresas aumentaram os dividendos ou os mantiveram estáveis.
Dias difíceis para as mineradoras
Os dividendos menores não foram uma exclusividade da Vale. O setor de mineração como um todo desacelerou quando o assunto é lucros e remuneração dos acionistas. Segundo a gestora, o efeito foi global e o setor de mineração foi o mais fraco no mundo, reduzindo os pagamentos de dividendos em um quinto. As mineradoras viveram seu auge em 2021, quando puxaram os dividendos globais, mas segundo a Janus Henderson, desde meados de 2022 elas vêm sendo afetadas pela queda no preço das commodities.
Com informações de InfoMoney (adaptado pelo Blog do Branco).
Imagem: reprodução Internet.