Caos consentido

Novamente escrevo de dentro de um ônibus sob uma balsa, em mais um capítulo de minha “ponte” rodofluvial entre Parauapebas e Belém. E, novamente, volto a escrever sobre a minha querida cidade natal.

Esta crônica é mais um desdobramento de minha percepção espacial sobre a referida cidade. Belém virou um caos. Tornou-se em curto espaço de tempo, um reduto totalmente deteriorado. O abandono que antes se via quase exclusivamente em suas periferias (algo recorrente nos grandes centros brasileiros), hoje se faz presente no centro, nos bairros mais nobres. Por onde se passa, basta olhar que defronta-se com o caos: ruas esburacadas, lixo para todo o lado; a paisagem em si, deteriorada. Casas sem manutenção, prédios abandonados, nada parece ser novo, ou que possa embelezar aquele perímetro. Um cenário Hollywoodiano de filmes de ação.

Belém vem se deteriorando aos poucos. No campo político e de gestão, a capital paraense sofre há tempos com péssimas gestões municipais, além da politicagem que, por anos, criou um “cabo de guerra” entre prefeitura e o governo do Estado. E quando se tinha parceiras, como nos governos Jatene e as gestões de Duciomar e Zenaldo, pouco ou quase nada avançou.

A disputa, por exemplo, entre Manaus e Belém pelo título de “capital da Amazônia”, já nem existe. A capital amazonense já nos deixou para trás. O estado de inércia coletiva que toma conta dos habitantes da capital e de sua região metropolitana, é outro fator que impressiona e desanima. Parece que as pessoas desistiram de lutar, buscar melhorias, tamanho é o desalento com a classe política e seu modus Operandi em relação a Belém. Hoje o lema “cada um por todos, todos por um” é o que move os seus pouco mais de 1,4 milhão de habitantes. E assim se leva a vida em meio ao caos, a selvageria urbana e a deteriorização da condição de vida; dispensando, neste caso, o termo “qualidade” de vida, que no caso de Belém, nem faz sentido usá-lo.

Esta crônica é uma triste constatação. Escrevê-la é um desabafo. É uma narrativa que tenta, talvez, sem sucesso algum, fomentar alguma reflexão.

Não se pode, ou não podemos nos acostumar com o caos; fazê-lo, portanto, parte de nosso cotidiano, um elemento natural, corriqueiro e até, indispensável de nosso dia-a-dia. É perigoso e só piora a situação.

Quem vai salvar Belém, ou resgatá-la desta inércia a que foi submetida paulatinamente nas últimas duas décadas? O seu caos urbano não pode ser escondido por de trás de “bolhas” de modernidade, como os shoppings (que na prática não representam nada na questão da qualidade de vida), ou ações isoladas de paisagismo moderno. Belém em seu contexto geral, está degradada. Uma visão minimamente crítica sobre o espaço (sem ser preciso ser especialista no assunto) para perceber e comprovar tal afirmação.

A bela capital do Pará, a cada dia vai perdendo o seu charme. E pior, com a conivência coletiva de seus habitantes. Repito: quem salvará Belém?

Henrique Branco

Formado em Geografia, com diversas pós-graduações. Cursando Jornalismo.

#veja mais

Terras raras no Brasil: do potencial à realidade sustentável

Elementos de terras raras é um grupo de 17 metais estratégicos encontrados na natureza, geralmente misturados a outros minérios e de difícil extração. Apesar do

Crescimento de candidaturas femininas é maior em cargos de vice-prefeita

A parcela de candidaturas de mulheres ao cargo de vice-prefeita cresceu 21% na comparação entre as eleições de 2016 e o pleito de 2020. A

Vale deixa de ser a empresa mais valiosa da América Latina

O colapso dos preços do minério de ferro encolheu em cerca de US$ 40 bilhões o valor de mercado da Vale, que perdeu o posto

Parauapebas: Luiz Castilho retorna à Câmara Municipal

Logo no início da sessão, o presidente da CMP, vereador Rafael Ribeiro (MDB), concedeu a palavra à Raianny Rodrigues (Pros), que agradeceu pela oportunidade de

O futuro de Temer e a disputa pelo governo do Pará

Ontem (13) o senador Jader Barbalho que se resumia aos bastidores políticos, aos corredores de Brasília, resolveu subir à tribuna e fazer um discurso inflamado

Governo publica decreto que aumenta número de cargos na ANM

O Governo Federal publicou, dia 13 de junho, o Decreto nº 12.505/2025 ampliando de 254 para 318 o número de cargos da Agência Nacional de