Como é sabido, desde 1947, o Brasil abre a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). Portanto, tal decisão torna o nosso país um protagonista naquele colegiado. Por ser o primeiro a falar, o presidente brasileiro cria bastante expectativa. Não existe uma tribuna mais importante do que aquela.
O presidente Jair Bolsonaro embarcou para os Estados Unidos, cidade de Nova Iorque, sede das Nações Unidas, em uma comitiva de 17 pessoas. A ampla maioria dos convidados são ministros de Estado. Além de abrir os trabalhos, as comitivas presidenciais brasileiras aproveitavam a ocasião para mostrar as ações realizadas por seus governos e fechar acordos com outros países. No encontro deste ano, apenas dois integrantes da comitiva registraram compromissos oficiais na agenda. Portanto, na prática, a estada do Brasil na ONU serviu apenas para cumprir o protocolo de abertura do evento.
Se fosse só isso seria menos pior. A questão está centrada nas consequências de atos e discursos. Em sua fala, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) continuou a defender o que se chama de tratamento precoce, comprovadamente ineficaz no combate a Covid-19, protocolo de tratamento este que nenhum outro país segue. Afirmou a desobrigatoriedade da imunização, outro fato que vai de encontro ao resto do mundo. Expos números e ações de seu governo que não são reais. Qualquer presente ao evento que tivesse a curiosidade em pesquisar sobre o conteúdo dito pelo presidente brasileiro, encontraria inconsistências na narrativa.
Se não bastasse isso, o presidente Bolsonaro teve a sua entrada proibida em estabelecimentos nova-iorquinos, pois, declaradamente, o mandatário brasileiro afirma que não tomou vacina, o que infringe diretamente a lei americana que obriga a vacinação para acesso aos estabelecimentos. Para completar a tragédia brasileira em solo americano, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, fez gestões obscenos contra manifestantes que protestavam contra a comitiva brasileira. O caso teve repercussão mundial. Um ministro da Saúde perdendo a compostura dessa forma. Horas depois, o citado foi anunciado como mais um infectado pelo coronavírus.
Queiroga pelo tempo de manifestação de sintomas, foi infectado em solo brasileiro. O ministro circulou em diversos espaços, cumprimentou dezenas de autoridades mundiais, o que poderá ocasionar situações embaraçosas ao Brasil. Que fique registrado que a comitiva brasileira foi a única que teve seus membros circulando sem máscaras nas dependências internas da ONU.
Se a imagem do Brasil já estava arranhada lá fora, imagina agora. Uma comitiva presidencial sem agenda, que não despertou interesse em outros países, que descumpriu normas sanitárias, que tem seu chefe não vacinado e que defende métodos de tratamento não usados em outros países, deixou na ONU um estrago enorme nas relações exteriores brasileiras. O mundo está surpreso com o Brasil. Infelizmente de forma negativa.