O dono do Brasil

Os mais atentos sabem que o Brasil vive hoje, disfarçadamente, um regime parlamentarista. O presidencialismo não existe na prática, consta apenas na Constituição Federal. Tudo porque o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL) não manda como se pensa. Desde o fim de 2019, o mandatário nacional terceirizou a sua gestão ao Centrão, a maior bancada do Congresso Nacional, composta por diversos partidos, que passou a garantir a sustentação política ao governo.

Arthur Lira (PP-AL) se elegeu presidente da Câmara dos Deputados em janeiro de 2021, com apoio declarado do Palácio do Planalto. Em troca, o novo presidente da Casa iria legislar favoravelmente ao governo. A principal ação é barrar qualquer possibilidade de impeachment. A aproximação do presidente com o Centrão ocorreu em meados de abril de 2020, quando a popularidade do governo começou a cair e se percebeu que sem uma base, o risco de impeachment, a exemplo do ocorrido com Dilma Roussef (PT).

Vale registrar que o grupo parlamentar chamado de Centrão já participou da base de outros governos, como Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB). Muitas vezes trocando cargos por apoio. Bolsonaro foi eleito negando e criticando o que chamava de velha política: o toma lá dá cá. Esse fato é só mais um exemplo da incoerência bolsonarista entre discurso e prática.

Lira, sem dúvida, é o grande fiador do caos que o país vive. Em troca do apoio ao governo, cobrou deste maior poder, o que inclui o orçamento secreto, as emendas de relator que fizeram com que o Congresso Nacional passasse a ter muito mais controle sobre os recursos da União, a moeda de troca para manter a base de apoio ao governo.

Bolsonaro não governa há mais de um ano. Virou um chefe de Estado. Seu papel é atacar as instituições, viajar, movimentar a militância. A gestão do país foi – sem cerimônia – terceirizada a dupla Arthur Lira e Ciro Nogueira (PP-PI), senador licenciado, para ser o atual ministro da Casa Civil.

Lira tem todo o controle sobre seus pares. Não é novidade as manobras que o mesmo promove contra o regimento interno da Câmara dos Deputados, para que possa favorecer sua atuação e, de quebra, o Palácio do Planalto.

A questão é: se Bolsonaro perder a eleição para o ex-presidente Lula (PT), Lira continuará a manter esse extremo poder? Sua reeleição para continua a presidir o parlamento federal é algo quase certo, portanto, resta saber como o citado deputado irá construir a sua relação com o possível governo petista.

De todo modo, conforme escrevi aqui recentemente, independente de quem vença a eleição, o Congresso Nacional – via Câmara dos Deputados – continuará a mandar muito. O orçamento secreto não deverá ser encerrado com o fim da atual legislatura. Ele, inclusive, consta no Orçamento de 2023, aprovado recentemente.

Arthur Lira, indiscutivelmente, é quem manda atualmente no Brasil. Continuará a mandar tanto em um outro governo que não seja o de Bolsonaro? Dificilmente. Todavia, o

Imagem: reprodução Internet. 

Henrique Branco

Formado em Geografia, professor das redes de ensino particular e pública de Parauapebas, pós-graduado em Geografia da Amazônia e Assessoria de Comunicação. Autor de artigos e colunas em diversos jornais e sites.

#veja mais

Aos 35 anos, Constituição tem mais de 160 dispositivos não regulamentados

A Constituição Federal completou recentemente 35 anos, mas ainda não pode ser considerada uma obra acabada. De acordo com um levantamento feito pela Câmara dos

Maduro diz que dará “lição histórica a Direita” na Venezuela

Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, prometeu que dará “uma lição histórica à direita” no país. A fala aconteceu durante evento com aliados políticos da região

Eleição na Argentina vai para segundo turno entre Massa, com 36% dos votos, e Milei, com 30%

A eleição presidencial na Argentina será decidida em segundo turno entre o atual ministro da Economia, Sergio Massa (União Pela Pátria), e o candidato de

O fator saudade na política

A combinação de duas pesquisas divulgadas nos últimos dias é reveladora dos motivos pelos quais o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se mantém à

PSDB ao Centro

Em recente entrevista, João Dória, governador de São Paulo; hoje o maior expoente do PSDB no Brasil, afirmou que o partido entra em uma nova

A Vitória de Trump. Os Mercados. O Meio Ambiente. As Guerras. A Globalização

Com a passagem da euforia de uma vitória esmagadora para os padrões americanos – mesmo com o processo ainda em curso, faltando contar alguns milhares