Em março de 2019, o Blog produziu análise intitulada de “Os militares continuam avançando, agora irão controlar a Comunicação”, ocasião que, a chamada ala militar, um dos pilares do então novo governo, crescia e se aproximava do presidente. Havia, naquele momento, a expectativa de que, gradativamente, tal grupamento chegaria a ser o mais importante, tomando as rédeas, por exemplo, do novo governo.
A expectativa logo se arrefeçou-se quando outra ala, a ideológica, assumiria o papel de ser entre todas as outras, a mais próxima do presidente. Mas os militares ficaram a espreita, à espera de novos acontecimentos, que permitissem novos avanços. E ele veio através da necessidade. O Palácio do Planalto está todo militarizado. O único ministro civil que despachava no recinto era Onyx Lorenzoni, agora ex-chefe da Casa Civil, que foi substituído pelo presidente Bolsonaro e alocado para o Ministério da Cidadania, com a saída de Osmar Terra. O novo titular da Casa Civil é o general (ainda da ativa) Braga Netto. Além dele, os demais militares no governo abrigados no Planalto são: general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional; general Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo; e o major da Polícia Militar do Distrito Federal Jorge Oliveira, chefe da Secretaria Geral da Presidência.
Portanto, Bolsonaro se cerca de militares. E, ao mesmo tempo, começa a se distanciar da ala ideológica, a que lhe era mais próxima. Mas por que a mudança? Tudo indica que o presidente percebeu que a relação de seu governo com o Congresso Nacional não será fácil neste ano. Sabe também que seus auxiliares civis que estavam no terceiro andar do Palácio do Planalto não estavam desempenhando bem suas respectivas funções, como foi o caso de Lorenzoni.
Além disso, os militares impõe respeito e por suas discrições, causam menos conflito e produzem menos atritos. Tornam, portanto, o governo mais pragmático e menos alucinógeno. O avanço do campo ideológico continuará a avançar, mas parece que o presidente o quer menos determinante e menos barulhento. Só terá a função de produzir barulho quando for necessário – como efeito de cortina de fumaça – a exemplo do que diz o jornalista Carlos Andreazza, que defende a tese de tática do “fusível”.
Os militares parecem garantir ao presidente certa estabilidade. Por sua natureza, buscam acalmar os ânimos; calmaria que parece ser algo impossível de ser feito por parte dos componentes da ala ideológico, até porque vão de encontro da natureza de sua existência e função no governo.
A perda de mobilização nas redes sociais, mostra ao presidente que o seu governo envolto a todo momento em nova polêmica e, às vezes, em casos “requentados”, desgastam a sua imagem e o fazem perder apoiadores, àqueles menos ideológicos e com senso de realidade. Outro fato do avanço do campo militar (em especial na relação política do Palácio do Planalto com o Congresso Nacional) no governo está na construção – através da estabilidade vinda dos militares – de um novo relacionamento com os parlamentares. Algo que Lorenzoni não conseguiu fazer desde quando chegou à Casa Civil, que por sua inabilidade, desidratou a própria pasta.
Não creio que o aumento da presença dos militares, esteja relacionado diretamente a uma possibilidade de cerco às instituições democráticas, e sim porque o presidente Bolsonaro percebeu que se faz necessário para estabilizar o governo, fazendo-o, por exemplo, ter mais autonomia perante o parlamento que, de quebra, diminui o protagonismo dos presidentes Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre. Inegavelmente, o Palácio do Planalto está militarizado, virou quartel, mas sem estarmos na ditadura. Pelo menos ainda.