O peso das traições

Inicio este artigo com fragmentos de uma importante publicação intitulada “Traição e Política”, escrito por Luciana Veras, e que irá compor o objetivo desta análise. Ela provoca: “Quem é mais conhecido no Brasil de hoje: o alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, ou Joaquim Silvério dos Reis, personagens principais da Inconfidência Mineira, conspiração engendrada contra Portugal no século 18?

Ela prossegue na conceituação: “O requisito fundamental para uma traição é um laço afetivo de natureza privada; para uma dissidência política, é o reconhecimento das prerrogativas legais de um sujeito de direitos individuais, portador de uma consciência racional e livre, capaz de determinar-se segundo a lei”.

Sob o quesito traição na política, o atual senador da República pelo Pará, Zequinha Marinho (PL) é um grande exemplo. Não precisa mergulhar muito no processo histórico para entender. A primeira referência vem de 2018, precisamente em abril. Naquele ano, o então governador Simão Jatene (PSDB) tinha decidido deixar o cargo para concorrer ao Senado Federal, com a pretensão então de deixar Marinho no comando do governo até o fim do ano. Todavia, o vice-governador não aceitou as determinações e condições, afirmando que se ele assumisse a máquina estadual, concorreria à reeleição. Tal postura fez com que Jatene abortasse o seu plano (que tinha outros apêndices políticos que incluía a filha e genro) e ficasse no governo.

Depois do impasse declarado, ambos ficaram sem se falar até a eleição. Se não bastasse a sua postura, Marinho meses depois da data citada, se aliou aos Barbalho, principais adversários dos tucanos naquele momento, se candidatando ao Senado Federal na segunda vaga da dobradinha com Jáder, ambos eleitos.

O que parecia um casamento longo, rapidamente se mostrou uma união oportuna por parte de Zequinha. Os Barbalho acharam que colocariam o então eleito senador pelo PSC em sua órbita, mas se engaram. Marinho mostrou-se independente logo de cara, apesar de se manter aliado. Até que veio a ruptura no fim de 2021.

O então senador do PSC afirmava que poderá contar com apoio para ser o candidato do presidente Jair Bolsonaro ao governo do Pará, em 2022. Por enquanto, a única pesquisa que se tem conhecimento sobre a disputa estadual no Pará, coloca Marinho com quantitativo de rejeição maior do que a intenção de voto. Todavia, com o apoio público de Bolsonaro, tudo pode mudar. Ou não.

Às vésperas do Natal de 2021, circulou por toda a internet a cerimônia de filiação de Zequinha ao Partido Liberal (PL) – via seu presidente nacional, Valdemar Costa Neto – que, de quebra, filiou o ex-senador Mário Couto, Delgado Eguchi e o ex-deputado Neil. Todos ingressaram no “novo” PL. Ainda teve o deputado federal Eder Mauro (PSD) que conseguiu emplacar o seu filho, Rogério Barra, ex-secretário estadual de Justiça e Direitos Humanos, no partido.

Na prática, a traição tem seu peso. Faz parte do jogo político desde o nascimento da política, todavia, quase sempre não é bem vista por quem a pratica. Marinho sentiu isso na pele recentemente.

O jornalista Hiroshi Bogéa, de Marabá, postou em seu site relatos de uma situação um tanto quanto embaraçosa ocorrida com o senador Zequinha Marinho, em Redenção, sul do Pará. Segundo ele, foi marcada uma reunião com a presença das principais lideranças do agronegócio que apoiam o presidente Jair Bolsonaro (PL) – de mesmo partido do citado senador. O que poderia parecer um grande evento em apoio à pretensão de Marinho em concorrer ao governo do Pará, na verdade, foi um grande fiasco, algo extremamente constrangedor, mas que reafirma a proposta deste artigo.

De partida, ao perceberem a presença de Zequinha na reunião, os fazendeiros deixaram claro que o senador não os representava. Um dos presentes afirmou: “O senhor não nos representa e nem ao presidente Bolsonaro, aqui na região. Por isso, sua anunciada candidatura ao governo do Estado não merece nosso apoio e nem terá o apoio de quem apoia Bolsonaro, no Pará”. Outro: “O senhor até bem pouco tempo atrás apoiava o Jatene (ex-governador Simão Jatene) e o traiu, e agora se diz bolsonarista. Não, o senhor não tem nosso reconhecimento”. Um terceiro: “Você foi Helder até dias desses e também o traiu; você nunca foi Bolsonaro”.

Pelo visto, Zequinha percebeu da pior forma possível que sua candidatura ao governo não é bem quista nem por aqueles que apoiam Jair Bolsonaro. Para quem espalha pelos quatro cantos que é o candidato do presidente, a situação está bem difícil. A pecha de traidor está carimbada no senador. Suas manobras políticas rasteiras nos dois maiores grupos políticos do Pará, pesaram muito negativamente. Traição faz parte do jogo de poder, mas nunca foi bem visto pelo eleitorado. Quem confia em Zequinha?

Henrique Branco

Formado em Geografia, com diversas pós-graduações. Cursando Jornalismo.

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