O primeiro artigo que escrevi sobre a relação do Partido Social Liberal (PSL) com o clã Bolsonaro foi no dia 20 de janeiro do ano corrente. O governo ainda estava sendo formado e, no citado artigo, analisei naquele momento, a postura do partido do presidente em relação a nova gestão (a legenda em questão sendo o partido do mandatário nacional, portanto, governista), haja vista, que não havia sincronismo entre o Executivo e Legislativo, produzindo na prática, falta de apoio do PSL em relação as matérias de interesse do Palácio do Planalto. Confira na íntegra o artigo (clique aqui).
Menos de um mês depois, no dia 17 de fevereiro, voltei ao tema. Naquele momento, estourava as denúncias de candidaturas laranjas do PSL, que respingou no governo e na imagem do presidente. Já existia um ambiente de atritos entre os Bolsonaro e o partido, sobretudo em relação aos seus dirigentes. A corda era esticada o tempo inteiro, com maiores ou menos níveis de tensão. No período citado, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno era demitido, depois de travar uma disputa com o vereador e filho do presidente, Carlos Bolsonaro, chamado de “02”.
À época, escrevi: ” Em resumo, o fato que deve desencadear na exoneração de Bebianno, e de quebra, desnuda um outro processo: a estratégia de afastamento do bolsonarismo do PSL. A situação é simples: o referido partido recebeu Bolsonaro e a sua leva de simpatizantes, que culminou em uma reconhecida vitória nas urnas. Mas a estratégia, sobretudo de Carlos e Eduardo, ambos de atuações mais ideológicas do governo, querem uma outra “casa”, uma nova ou outra maior, com maiores e melhores condições políticas. O “laranjal”, portanto foi uma ótima notícia ao clã bolsonarista, e que validará a saída do PSL, com o discurso da corrupção. Bebianno seguirá o caminho da rua; Carlos venceu, e deu sentido a sua estratégia política”. O artigo pode ser lido na íntegra clicando aqui
Trinta e dois dias depois, o Blog volta ao tema. Desta vez, questionando se – de fato – o PSL era governo? E tal questionamento se fazia necessário pela falta de sintonia entre os congressistas do partido e o Palácio do Planalto. No centro do debate estava a reforma da Previdência. Diversos deputados do partido votaram contra indicações e interesses palacianos.
Historicamente o Partido Social Liberal (PSL) desde a sua fundação, em 1994, sempre foi uma legenda considerada “nanica”, ou seja, com pouca representatividade ou expressão política. Sua ideologia original era o social-liberalismo, que defende menor participação do Estado na economia. Em 2018, o então deputado federal e presidenciável Jair Bolsonaro, anunciou a sua filiação ao partido. A partir daquele momento a legenda cresceu rapidamente, começando a ocupar destaque no cenário político nacional. Na onda “bolsonarista”, centenas de candidaturas vieram juntas. Hoje, o PSL conta com 53 deputados federais, três governadores e três senadores. Indiscutivelmente foi a legenda que mais cresceu no país nos últimos anos.
No caso da Câmara, logo após o fim do processo eleitoral, onde pode-se analisar o perfil da bancada eleita, percebeu-se logo que ela estava composta em sua maioria por aventureiros, oportunistas que – ao terem alguma visibilidade em seus ramos de atuação, mas sem nenhuma experiência política – foram eleitos puxados pela onda Bolsonarista, mas sem identidade ou ideologia.
Recentemente a questão voltou à pauta da política nacional, através de uma fala do presidente a um apoiador, em que o mandatário disse que é para ele esquecer o partido, porque o seu presidente estava muito “queimado”. A narrativa em minutos tomou uma grande proporção, reforçando o objetivo de Bolsonaro em deixar o PSL.
Sobre o caso, de forma atual, o jornalista Gilberto Dimenstein produziu uma ótima síntese: “Em guerra com o PSL e suas centenas de milhões nos cofres, Jair Bolsonaro pediu auditoria de cinco anos nas contas partido. Uma pancada, claro: dificilmente, o PSL vai ter suas contas em ordem. Constatadas as irregularidades, os parlamentares poderiam usar a lei e mudar de partido sem perder o mandato.
Mas, no meio do caminho, o PSL preparou uma vingança. Está pedindo as contas de Jair Bolsonaro nas eleições municipais. Lembremos que, nas eleições, surgiu o laranjal no partido – e pelo menos um assessor do ministro do Turismo disse na polícia que dinheiro sujo ia para campanha de Bolsonaro. Mesmo se fosse, Bolsonaro talvez nem soubesse. Mas não importa: imagine esses documentos vazados para a imprensa. Ficariam todos sujos, gerando um prato cheio para as oposições. Sem contar que, em poucos meses, começa a campanha para as prefeituras”.
Como dito, em jogo está os volumosos recursos do fundo partidário que o PSL tem direito, pelo tamanho de sua bancada, e que tem uma soma de 350 milhões de reais.Até a eleição passada, o PSL tinha um fundo eleitoral de R$ 9 milhões, e passará a ter R$ 100 milhões (fundo partidário – haja vista que não haverá eleições). Somando os fundos eleitoral e partidário quatro anos do governo Bolsonaro, em que entra a cada dois anos o complemento do fundo eleitoral, e a todo ano o fundo partidário, a soma pode chegar a 70 milhões de reais.
Os Bolsonaro não controlam como gostariam o partido, que tem como presidente Luciano Bivar, alvo do ataque dialético do presidente. Segundo Daniela Lima, da Folha de São Paulo, a ideia da auditoria externa para investigar as contas do presidente da República tem como objetivo provocar um “debate ético” entre as partes. Ao lado de Bolsonaro estão seus dois filhos filiados à legenda, Eduardo (deputado federal, SP) e Flávio (senador, PSL), e outros 19 deputados federais, os mesmos que assinaram nota na quarta-feira em apoio às críticas que o presidente da República fez ao partido. No total, a legenda possui 53 deputados federais e 3 senadores – os rebeldes representam cerca de um terço disso.
A disputa está apenas começando entre os dois lados. Para o Bolsonarismo, o PSL cumpriu o seu papel de eleger Jair e dois de seus filhos, além de uma legião de candidatos que entraram no partido surfando na onda política que se formou. Ou os Bolsonaro dominam o partido, ou o deixarão e criarão outro, para que a nova “casa” possa atender as necessidades do Bolsonarismo, que precisa de um partido para chamar de seu. A questão, sem dúvida será judicializada.