Ponto de não retorno político

Nos últimos anos de minha atividade docente, ao tratar de meio ambiente, este voltado mais à Amazônia, me acostumei a utilizar o termo de “ponto de não retorno”, frase que engloba um conceito de alerta, da necessidade urgente de parar com o desmatamento, com queimadas e com a destruição de modo geral, do meio natural.

Na Amazônia, por exemplo, especialistas falam que esse ponto de não retorno está prestes a ser atingido. Ele gira em torno (sem um consenso geral) de 20%. Se levarmos em consideração que a destruição do bioma amazônico já chegou a 18%, estamos, portanto, à beira desse ponto de não retorno. Na prática, ao ser atingido, impossibilita que o meio ambiente consiga se recuperar naturalmente. No caso da Amazônia, já quase em seu limite, seria transformar a maior floresta tropical do mundo em savana.

O leitor ao ter lido até que aqui pode pensar que se trata de uma abordagem sobre meio ambiente. Na verdade é. Porém em parte, pois o termo repetidamente usado e que engloba parte do título deste artigo, trata, na verdade, do atual cenário político brasileiro. Também estamos chegado a um ponto de não retorno no tocante à manutenção do regime democrático. O presidente Jair Bolsonaro (PL) vem sistematicamente atacando os principais pilares de nossa democracia. Dentre tantos, a mais nova que foi o encontro com dezenas de diplomatas, ocorrido no Palácio do Planalto na última segunda-feira, 18, algo surreal. O mundo assiste atônito o que vem ocorrendo no Brasil. A corda sempre se mantém tensionada. Há método.

Desde 2019, ano que Bolsonaro assumiu a presidência da República, seu modus operandi vem transcorrendo no compasso de dois passos à frente, um para trás. Portanto, sempre avançando. O recuo também é tático. Seria como um ponto de espera, análise de causa e efeito. Estamos à beira de um golpe? Sim. O jogo de ensaio já não existe mais. Ele agora é claro e progressivo. A questão é saber se conseguirá êxito em sua ruptura institucional.

O que faz com que Bolsonaro continue atentando contra o regime democrático é a inércia da própria estrutura institucional do país. Como se não acreditassem que seja possível um golpe. Outro ponto: de qual formato de golpe estamos falando? Se você acha que possa ocorrer aos moldes de 1964, com tanque nas ruas e fechamento, por exemplo, do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF), pode esquecer. As democracias estão morrendo de outra forma. Morrem “por dentro” através de ações articuladas como desacreditar a Justiça, a política, as instituições…

Mesmo que Bolsonaro não consiga dar um golpe. Mesmo que ele deixe a Presidência não aceitando o resultado das eleições, caso perca; sua passagem pelo posto mais importante do país, deixará estragos. Teremos um país mais fragilizado institucionalmente. O próximo presidente – que não seja ele – terá uma gestão difícil, sendo questionada o tempo todo a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos.

Caso perca e deixe o cargo, a maior herança de Bolsonaro será a fragilização das instituições. Nosso ponto de não retorno político está no limite? Já foi ultrapassado? Há como consertar? As próximas semanas serão cruciais para que essas questões sejam respondidas, ou não. A ver.

Imagem: Brasil de Fato. 

Henrique Branco

Formado em Geografia, professor das redes de ensino particular e pública de Parauapebas, pós-graduado em Geografia da Amazônia e Assessoria de Comunicação. Autor de artigos e colunas em diversos jornais e sites.

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