Informado pelo próprio presidente da mineradora, Fabio Schvartsman, a empresa irá encerrar as atividades em 10 barragens como a de Brumadinho, ou seja, com localização à montante. Segundo ele, essas barragens serão descomissionadas, e todas estão localizadas em Minas Gerais.
O termo descomissionada significa preparar a barragem para que ela seja integrada à natureza, portanto, ela perde o seu ofício junto ao processo produtivo mineral. Tal medida reduzirá a produção em 40 milhões de minério de ferro e 10 toneladas de pelotas por ano, o que representa 10% da produção da empresa ao ano, segundo Schvartsman.
Segundo o presidente, “A única maneira de fazer o descomissionamento é parar a operação. A Vale tomou espontaneamente a decisão de parar todas as operações. A razão pela qual temos que parar as operações é para acelerar o descomissionamento”.
O jornalista André Santos, reconhecidamente um dos maiores conhecedores sobre o tema da mineração em Carajás, afirmou que a Vale não produzirá no geral em menor quantidade. Para compensar a queda considerável em Minas Gerais, nos Sistemas Sudeste e Sul, a Vale aumentará, talvez, na mesma proporção a produção no Sistema Norte, que tem como referência Carajás.
Estimativas apontam (haja vista que o balanço de 2018 ainda não foi divulgado) que a produção da Vale de minério de ferro no Brasil atingiu 370 milhões de toneladas; com Carajás chegando a 195 milhões de toneladas do referido minério. Antes da tragédia em Brumadinho, a Vale – ainda em cenário de céu de brigadeiro – anunciou que a meta para o ano corrente seria de 400 milhões de toneladas no Brasil.
Para que isso ocorra, ou seja, o volume de produção não diminua, o que gera a diminuição do fluxo de caixa da mineradora, derrubando a meta de diminuição do nível de endividamento – o que na prática já vinha ocorrendo – o Sistema Norte, concentrado em Carajás, terá que aumentar a sua produção, e inversamente proporcional a isso, a diminuição do tempo de vida das minas da Serra Norte. Ao Sul, em Canaã dos Carajás, o S11D será outro ponto de sustentação a Vale, podendo aumentar a sua produção (com a meta atingida já em seu segundo ano de operação, ao produzir 90 milhões de toneladas ao ano).
O Adiamento da Divulgação do Balanço de 2018
Tradicionalmente a Vale divulga o seu balanço do 4º trimestre na segunda semana do mês de fevereiro, para depois – na virada para março – divulgar os seus números finais, fechando o exercício contábil do ano anterior. Desta vez vai ser diferente. A mineradora divulgou ontem (30), alterou a data de divulgação do balanço financeiro “em decorrência do foco total da companhia nas ações de suporte aos atingidos” pelo rompimento de uma barragem da mineradora no Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG).
Esse é o discurso oficial, porém sabe-se como funciona o mercado. O adiamento pode ter ocorrido por pressão dos acionistas. O último trimestre geralmente vem com o prognóstico do exercício do ano seguinte, ou seja, 2019, apresentando as metas da empresa. E, por isso, a mudança da data de divulgação, para que as metas – com o desastre em Minas Gerais – possam que ser revistas. Com a mudança, o relatório de desempenho financeiro da mineradora será divulgado no dia 27 de março, após o fechamento do pregão na bolsa. A data de divulgação dos relatórios de produção e vendas também foi alterada, para o dia 26 de março, antes da abertura dos mercados.
Carajás que se prepare, a pressão pelo aumento da produção virá. A Vale sabe que não poderá rebaixar a sua meta de produção nacional, portanto, enquanto irá diminuir em Minas Gerais, aumentará no Pará. E isso parece ser uma boa notícia, mas não é.