Um ano da tragédia em Mariana. Qual lição ficou para Carajás?

Na semana passada, completou-se um ano da maior tragédia ambiental da história do Brasil. O município de Mariana foi quase varrido do mapa. Localizado a 124 km da capital Belo Horizonte, bem próximo do rompimento das duas barragens da mineradora Samarco, controlada pelas gigantes do seguimento mineral: Vale e BHP Billiton (Australiana).

Um ano depois, o país ainda acompanha os desdobramentos da tragédia e suas consequências, que ocorrem nos campos econômico, social e ambiental. Ainda não se mensurou os impactos futuros. As barragens que se romperam eram de rejeitos do processo de produção mineral. Nesses espaços eram depositados restos de rochas e areia, juntamente com água, portanto, sem composição tóxica. O primeiro embate ocorreu justamente nesse ponto. De um lado o discurso para amenizar os impactos e de outro, a denúncia dos riscos que o contato com essa lama poderá causar a saúde humana.

Neste período o Ibama aplicou pesadas multas (valor máximo conforme a lei) a mineradora Samarco. A empresa recorrer e se utiliza da morosidade de nossa justiça e vai postergando toda e qualquer ação judicial. Um ano após a enxurrada de lama, ainda não se sabe os motivos que fizeram romper a barragem e ninguém foi preso. A tragédia em Mariana fez ligar a sirene do alerta por todo o Brasil. Se percebeu que as centenas de barragens espalhadas pelo território nacional apresentam problemas de todas as ordens. No Pará, por exemplo, uma centena dessas construções, foram reprovadas nos quesitos de segurança. Em Carajás, a Vale, logo após a tragédia mineira, contratou empresas especializadas, um verdadeiro exército de profissionais na área, foram destacados e percorreram as barragens da Vale na serra dos Carajás, e quando tiveram acessos a essas áreas, verificaram que muito trabalho teria que ser refeito ou feito.

Resolvi voltar a abordar a questão ocorrida em Mariana para chamar atenção no que se refere às atividades econômicas, de cunho mineral que são desenvolvidas na região de Carajás, local onde a Vale, assim como em Minas Gerais, mantém um dos maiores projetos minerais do mundo. O ocorrido em solo mineiro ainda poderá ocorrer aqui? Qual a possibilidade? Quais as medidas de segurança foram tomadas neste um ano para que isso não aconteça? Caso ocorra um acidente em uma das barragens do complexo Grande Carajás, os planos de emergência e gerenciamento de crise estão planejados?

O intuito deste artigo não é, obviamente, criar especulações ou terrorismo em relação aos empreendimentos minerais. Mas o ocorrido serve para alertar as autoridades locais para a construção, manutenção e planos de segurança nesse tipo de atividade. No caso da região de Carajás, a mineradora Vale mantém duas barragens: APA (Área de Proteção Ambiental) do “Gelado” que recebe e armazena os efluentes líquidos (água da chuva, lavagem dos maquinários ou qualquer água bruta). Segundo a Vale, no caso da represa do Gelado, a água despejada no reservatório é tratada com componentes químicos, sendo o principal o sulfeto de alumínio, usado para equilibrar o PH da água, em seguida, o recurso “tratado” é despejado no rio Gelado.

O Projeto Salobo, área territorial do município de Marabá, que explora principalmente Cobre, possui uma grande barragem (bem maior que a do Gelado) e está localizada a 120 km em linha reta do município de Parauapebas. Por imagem de satélite pode-se ter noção exata das dimensões do lago de rejeito e do tamanho da barragem. No caso do Salobo, o barramento seria para o armazenamento de produtos químicos que são usados no processo industrial do cobre, o que potencializa os danos e aumentam os riscos.

Segundo informações que levantei com fontes que trabalham na área ambiental de Parauapebas e que conhecem bem essas construções, me afirmaram que, apesar do projeto Salobo está em território marabaense, o plano de contingencia e prevenção de acidentes, estaria sob responsabilidade da Prefeitura de Parauapebas, Defesa Civil, Bombeiros da “Capital do Minério”, por uma questão de logística de acesso ao referido projeto. Além do Salobo, há a barragem do Sossego em Canaã dos Carajás, bem próximo da nascente do rio Parauapebas. Um acidente naquela região poderia causar danos ambientais incalculáveis no maior recurso hídrico da “capital do minério”.

Será que a maior tragédia ambiental da história brasileira e a maior do ano em todo o mundo não irá deixar lição? Não mudará a relação da extração mineral com o meio ambiente? A relação de governos com empresas mineradoras? Pelo visto, muitos questionamentos ficarão no ar, sem resposta. Impacto ambiental não Brasil ainda é segundo plano. Tudo em nome do desenvolvimento.

Henrique Branco

Formado em Geografia, professor das redes de ensino particular e pública de Parauapebas, pós-graduado em Geografia da Amazônia e Assessoria de Comunicação. Autor de artigos e colunas em diversos jornais e sites.

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