Na semana passada a jornalista Úrsula Vidal divulgou a sua desfiliação da Rede. Justificou tal atitude por incompatibilidade ideológica e programática com a referida legenda. Por seus posicionamentos pessoais e na forma que como vê e acredita na política, os rumos que a Rede estava tomando iam de encontro às suas pretensões. A título de passagem, o deputado federal pelo Rio de Janeiro, Alessandro Molon, também comunicou a sua saída do partido. Marina Silva encaminha a sua agremiação partidária para o abismo eleitoral, sobretudo, nas decisões que a Executiva Nacional vem tomando.
O nome de Úrsula Vidal sempre esteve bem posicionado nas pesquisas (com indicações ao Senado e ao governo do Pará). É um nome promissor e que destoa da polarização entre PSDB e MDB e sobrevive ao cansaço da maioria dos eleitores aos nomes que se apresentam para as disputas eleitorais.
Reconhecidamente, Vidal sempre foi uma jornalista de respeito, gabaritada, de opinião e conteúdo, sobretudo, crítico. Uma mente privilegiada dentro de uma seara de escassez de neurônios. Características que mantém agora em sua trajetória política. Por sua atuação crítica no jornalismo, a ida à política parecia algo inevitável, bem natural, como de fato ocorreu, quase por aclamação. Filiou-se primeiramente no PPS, depois migrou para a então recente criada Rede, agremiação partidária formada com a maioria dos dissidentes do Partido Verde e agora ingressa no Psol, legenda que parece ter maior afinidade com o seu perfil político mais à esquerda.
Seu teste nas urnas aconteceu em 2016, quando disputou a prefeitura de Belém, pela Rede, chegando em 4º lugar, com 79,968 votos (10,29%) dos votos válidos. Votação que surpreendeu pela estrutura dispensada de seu partido em comparação aos outros adversários. Úrsula conseguiu na disputa eleitoral sair do reduto acadêmico, mais elitizado, para simpatizar com os eleitores de outras camadas sociais. As ideias e propostas de Vidal foram bem aceitas, além de sua ótima comunicação e oratória. Seu índice de rejeição é mínimo, em alguns redutos eleitorais chega a zero. Portanto, tem longo caminho de crescimento em pesquisas de opinião (o que já vem acontecendo sistematicamente). O desafio de seu grupo político é levar o seu nome aos quatro cantos do Pará e criar condições políticas para que consiga garantir estrutura mínima de campanha.
Sua estada no Psol deverá criar o seguinte arranjo político-eleitoral: a vereadora Marinor Brito poderá se candidatar ao governo do Pará; com o deputado federal Edmilson Rodrigues disputando à reeleição e Úrsula Vidal deverá ser candidatar ao Senado. Nas recentes pesquisas (Ibope, Acertar e Doxa) ela aparece em terceiro lugar, bem próxima dos dois primeiros (Jáder Barbalho e Simão Jatene, respectivamente). Portanto, sua candidatura à Câmara Alta é altamente viável e competitiva. O Psol poderá repetir a dobradinha feminina feita pelo PT, em 2002, com Maria do Carmo ao governo e Ana Júlia ao Senado.
A estratégia psolista é clara e objetiva: manter representação na Câmara com Edmilson e ter uma cadeira pelo Pará no Senado. Usar Vidal na disputa pelo Palácio dos Despachos não seria inteligente. O referido partido não teria a devida estrutura para concorrer ao governo e a eleição ao Executivo estadual está muito polarizada entre MDB e o candidato de Jatene, portanto, as chances de vitória (ou pelo menos passar ao segundo turno) são escassas.
Resta saber como Úrsula Vidal irá transitar pelo autofagismo interno mantido pelo Psol desde a sua criação. Vamos aguardar.