A capa de O Liberal

A capa da edição de nº 37.208, do último sábado, 18, que trouxe o presidente Jair Bolsonaro pilotando uma moto, levando na garupa o deputado federal Éder Mauro, ambos do PL, deu o que falar. Somada a imagem que infringia diversas leis de trânsito, havia os dizeres: “Bolsonaro defende os valores cristãos”. Tal linha editorial que deixa claro a proximidade dos donos das Organizações Romulo Maiorana, hoje sob comando dos irmãos Ronaldo e Rosângela, após a saída de Rômulo, com o Bolsonarismo. Algo que, digamos, sempre existiu, mas agora tornou-se público?

O apoio velado do principal jornal do grupo ao presidente Jair Bolsonaro levanta outras questões: as ORM seguirão a linha à risca, portanto, apoiarão o senador Zequinha Marinho (PL) ao governo do Pará, rompendo a aproximação que os Maiorana remanescentes tiveram com os Barbalho? Ou o apoio se restringirá à disputa presidencial?

Vale relembrar… 

Em outubro de 2017, as Organizações Rômulo Maiorana sofreram uma surpreendente reviravolta. A disputa entre os seis irmãos pelo comando da empresa transpôs os muros e tornou-se pública. Ronaldo e Rosângela destituíram do comando central o irmão Rômulo, seguindo sequencialmente os ritos legais (assembleia – ata – registro – ação judicial) tomaram as rédeas da gestão.

Há tempos que havia uma guerra silenciosa dentro da empresa. Os irmãos em um total de seis (com diferentes níveis de participação acionária), já vinham divergindo intermitentemente. A gestão de Rômulo era muito questionada. Primeiro pelo seu perfil, cada vez mais distante do cotidiano da empresa. Gerenciava de longe, dos Estados Unidos, deixando aqui pessoas de sua confiança para executar as suas ordens. Depois a crise financeira com o risco de perder o posto de afiliada da Rede Globo, pela dificuldade em manter as metas da emissora carioca e o nível de satisfatório de operacionalidade. Na época da saída de Rômulo do comando haviam dois questionamentos: a crise poderia levar o grupo à derrocada? Ou, quem sabe, sob novo comando, melhorar a sua imagem e forma de relacionamento social, talvez, menos político, com um jornalismo menos parcial?

Inegavelmente a linha editorial sofreu alterações. Uma nova forma de produção de notícias, de relacionamento ficou evidente a quem acompanhava os jornais (televisivos e impressos). A proposta de ambos seria implementar uma política de coexistência pacífica com os Barbalho? Tudo indicava que sim, como de fato, ocorreu na prática. Primeiro, os ataques a Jader e Helder diminuíram bastante. Não só houve diminuição, como também passaram a noticiar ações positivas dos citados, algo impensado na época que Rômulo comandava.

O novo perfil de atuação das ORM confirma uma nova era, um processo de renovação interna, sem o anterior “modus operandi” de Rômulo, muito mais pautado na disputa pessoal, do que no jornalismo responsável. A eleição de 2018, já mostrava essa nova faceta das ORM: próxima aos Barbalhos e mais distante dos tucanos, que na época lançaram o então deputado estadual Márcio Miranda. 

Uma capa de jornal não é algo despretensioso. É, muitas vezes, um recado ou uma mensagem mais do que clara. Resta saber até que nível essa postura bolsonarista das ORM chegará. Será restrita à disputa presidencial ou incorporará o governo do Pará e o Senado? Houve uma ruptura entre o maior grupo de comunicação paraense e o governo do Pará?

A capa e a manchete não foram por acaso. Resta-nos aguardar cenas dos próximos capítulos…

Imagem: reprodução Internet.

Henrique Branco

Formado em Geografia, com diversas pós-graduações. Cursando Jornalismo.

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