Brasil x Suíça: a “era Tite” voltou a “era Dunga”

Ontem, em Rostov, Rússia, a seleção brasileira deu início ao objetivo de conquistar a Copa do Mundo pela sexta vez. A estreia foi a mais aguardada entre todas as seleções do referido torneio. A melhora imposta pelo trabalho de Tite como técnico é notável. Um desempenho que chamou a atenção de todos, colocando a seleção brasileira entre uma das favoritas para conquistar o título. Essa questão é inegável. Segundo os melhores conhecedores de padrão tático e capacidade técnica, a nossa seleção está indiscutivelmente entre as melhores, bem acima tecnicamente, por exemplo, dos selecionados do último mundial, inclusive pela capacidade de quem escala e prepara o time.

Todo esse favoritismo e superioridade perante o adversário de ontem não foram suficientes. Ainda bem que o futebol é um dos esportes mais ilógicos que existem. Entre o plano teórico e o prático, existe um espaçamento considerável. A Suíça se propôs a fazer o que lhe cabia, levando em consideração a sua inferioridade técnica: buscou travar o jogo. Assim montou esquema tático bem defensivo: 5-4-1 padrão (com algumas variações, mas congestionando ao máximo o meio e fixando duas linhas de quatro na marcação). Ocupou as intermediárias; subiu a marcação; marcou por zona e não individual e buscou contra-atacar pelas pontas, com meias velozes.

Tite é um treinador competente. Sabia de tudo isso, da forma e padrão tático que os suíços iriam impor. Para isso, montou o Brasil de forma ofensiva com base em suas famosas triangulações pelos lados; a velocidade pelas laterais; volantes que chegassem de trás. Por isso, Neymar fica em um lado, tendo a liberdade de se deslocar para o meio; Coutinho pelo meio, podendo ir pelo lado esquerdo (quase uma troca automática com Neymar, para confundir a marcação); Willian pela ponta, este mais fixo, sem “flutuação” pelo meio.

Foi exatamente o maior triunfo tático de Tite que não funcionou e fez com que a seleção fosse pouco objetiva e com volume ofensivo abaixo da média. É flagrante que a ausência de Daniel Alves na lateral é um duro golpe neste esquema tático. Seu substituto, Danilo, está muito abaixo de sua capacidade. Por exemplo, não sabe atacar, ir à linha de fundo. O Brasil perdeu a importante ofensividade que tinha pela lateral direita. Dani e Willian eram uma dupla forte por aquele setor, em que se buscava a variação de jogadas, viradas de jogo. Isso não existe mais e ficou claro ontem. Brasil tornou-se um time de uma banda só. Isso já limita a variação de jogo e taticamente o time.

Do outro lado, o esquerdo, Neymar ainda sente a falta de ritmo de jogo. Jogou mal, ainda não está em seu melhor estado físico. Isso anulou o grande potencial ofensivo de Marcelo. Coutinho jogou o que sabe, sem ser surpreendente; mas ficou isolado pelo meio, estrangulado entre as duas linhas de marcação suíça. Gabriel Jesus foi muito mal. Claramente sentiu a estreia e a responsabilidade em ser o centroavante da seleção. Nem o papel de pivô funcionou. Firmino entrou em seu lugar e foi muito melhor, apesar de perder uma chance clara de gol.

A defesa dispensa maiores comentários. A Suíça quase não atacou, o que exigiu pouco esforço do sistema defensivo. Em rara ocasião em que foi exigida, tomou gol dos suíços. A imprensa esportiva focou na questão do empurrão no lance entre Miranda e Zuber. A questão é interpretativa, contato, assim como o suposto pênalti em Jesus . Mas isso – pelo menos para a maioria dos jornalistas esportivos – parecer ser mais importante do que o futebol ruim que a seleção brasileira apresentou. O que não é o fim do mundo, haja vista, que as seleções favoritas, não foram bem. A atual campeã Alemanha até perdeu.

Sem dúvida, o empate e a apresentação ruim, por incrível que pareça, foi o melhor resultado para a seleção. Coloca a empolgação e o favoritismo em patamar menor; acalma o narcisismo; prega a humildade e pode melhorar o nível de preparação tática do time, com algo básico hoje no futebol e que o time não apresentou ontem (assim como a Copa inteira no Brasil, em 2014): variação tática.

Ontem, pelo menos, ontem, a “era Tite” voltou a ser a “era Dunga”. Ou foi apenas um relapso, algo que acontece com os melhores no futebol. O jogo contra a Costa Rica poderá conceder a resposta. Como após o gol de Coutinho todos no estádio cantavam “o campeão voltou”, com a empolgação do lindo lance, a seleção precisa de menos firula, menos prepotência e mais coletivo. O 7×1 não serviu de lição?

Henrique Branco

Formado em Geografia, com diversas pós-graduações. Cursando Jornalismo.

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