Ontem, 11, completou três anos que um acidente aéreo nos levou o jornalista Ricardo Boechat, à época, ancora da Rede Bandeirantes. Nos que cultuamos a competência, o bom jornalismo, este sustentado pelo alto nível profissional, tínhamos o hábito de escutá-lo e vê-lo diariamente. Perdemos, sem dúvida, um dos maiores jornalistas que esse país conseguiu produzir nas últimas décadas. Uma mente privilegiada, além do normal. Sua atuação com análises críticas, sempre contundentes e embasadas, não permitia réplica de quem era criticado. Havia o respeito a narrativa de Boechat.
Todos os dias nos acostumamos a acompanhá-lo na rádio, pela manhã; a noite como âncora do Jornal da Band. E, ainda tinha, sem enjoar, o Canal Livre no fim do domingo e início da madrugada de segunda-feira. Quantas vezes acordei me arrastando da cama horas depois para trabalhar, depois de acompanhar o programa no decorrer da madrugada. Mas valia muito a pena.
Em uma realidade medíocre, em que se faz apologia à ignorância, em que ser burro deixou de constranger, pelo contrário, virou orgulho, moda; a atuação jornalística de Boechat era a salvação, uma luz em meio a um cenário turvo. Isso tudo nós perdemos, ainda mais nos dias de hoje. Sua grande marca era explicar de forma simples, direta assuntos mais complexos. Se fazia entender de forma elogiável, por isso, fazia sucesso.
Por anos acompanhei o seu trabalho. Seu estilo crítico me ajudou a entender melhor o cenário político e seus meandros. Ele poderia – como sempre fazia pela manhã bem cedo – falar por um bom tempo sem cansar o ouvinte. Justamente porque a cada frase, um fato novo, um processo dialético envolvente. Sua crítica dava voz a milhões de brasileiros, que tinham esperança em sua narrativa.
Sem dúvida, o Brasil ficou mais pobre intelectualmente. Uma mente como a de Boechat é algo raro, não aparece facilmente. Demora para se formar e atuar ao grande público. A sua partida deixou no jornalismo brasileiro um buraco, um vazio. Igual a Boechat não haverá outro. Era único e assim será por um muito tempo. Ricardo não era só jornalista, fazia jornalismo.
A nós, e especialmente a mim, só resta agradecê-lo. Ricardo Boechat continua fazendo muita falta!
Imagem: Secretaria de Cultura de São Paulo.