Perdemos o direito de parar?

Além da tragédia com o avião que levava a delegação da Chapecoense a Colômbia, que demorará bastante tempo para sair da pauta esportiva, pela proporção, outra notícia balançou o esporte: comunicado do encerramento da carreira de Nico Rosberg da equipe Mercedes, isso depois de uma semana que conquistou o título mundial de pilotos da Fórmula 1.

Sou um grande fã da referida modalidade esportiva (para alguns o automobilismo não é esporte). Na infância acompanhei Ayrton Senna e todo o seu simbolismo. Desde a sua morte, em 1994, sem dúvida, a Fórmula 1 deixou de ser interessante para muitos brasileiros. Os pilotos nascidos aqui e que vieram depois de Senna, nunca conseguiram nem chegar perto do tricampeão. Não irei entrar nos méritos desta questão. Não é o intuito deste artigo.

O que leva um piloto – ainda novo, 31 anos – a encerrar a carreira, logo depois de um título mundial muito esperado? A lógica seria Nico continuar, seria o campeão em buscar do bicampeonato. Mas, Rosberg é diferente. Pelo menos, não seguiu a lógica do esporte ou de um esportista quando chega ao ápice da carreira, ainda novo. É a segunda vez na história da Fórmula 1 que um piloto se aposentou da categoria logo após conquistar seu primeiro título. O outro foi o britânico Mike Hawthorn, campeão de 1958. O último que deixou as pistas após ser campeão foi o francês Alain Prost, dono de quatro títulos (1985, 1986, 1989 e 1993).

O mundo das pistas ficou perplexo com a decisão. Quem em sã consciência deixaria o melhor carro, a melhor equipe, milhões em salários, e outros em contratos de publicidade, um possível bicampeonato, desta forma, assim de repente? Nico, fez.

Em seu pronunciamento oficial o agora ex-piloto disse: “desde a infância eu tinha três sonhos: ser piloto, ganhar o grande prêmio de Mônaco e ser campeão mundial”. De fato, ele conseguiu os três. Disse ainda que “chegou ao topo da montanha”. Parece que agora nada mais faz sentido, haja vista, que conseguiu o que sempre quis. Por isso, resolveu parar e cuidar da família.

E nós, aonde queremos chegar? Quando ou quanto tempo falta para se chegar ao “topo da montanha”? Quando iremos parar? Qual o limite do sonho de cada um? Ou sempre vamos além dos sonhos sem nos dar conta disso, pelo cultivo de um perfil cada vez mais competitivo, desde a infância? Ou se paramos “antes da hora” somos derrotados, medrosos ou incompetentes?

A sociedade cada vez mais nos cobra resultados, números, desempenhos, etc… Nem nós mesmos sabemos até aonde ir, qual o limite, o que ainda queremos. Estamos perdendo o direito de parar, de decidir sobre o futuro, a vida pessoal. O trabalho, as obrigações contratuais estão tomando conta da vida das pessoas.

Nico Rosberg, sem dúvida, nos deu um exemplo, no mínimo, instigante. Sua atitude fomenta o debate do que vale realmente a pena e do que é secundário ou de menor importância a cada um. Não podemos perder o direito de parar. É uma escolha pessoal e deve ser respeitada, independente de que a toma.

 

Henrique Branco

Formado em Geografia, professor das redes de ensino particular e pública de Parauapebas, pós-graduado em Geografia da Amazônia e Assessoria de Comunicação. Autor de artigos e colunas em diversos jornais e sites.

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