Um dos principais alicerces dentro da estrutura dialética que sustentava a narrativa Bolsonarista, era o combate à “velha política”, ou seja, a forma de como os governos mantinham relacionamento com o Poder Legislativo, neste caso o Congresso Nacional. E tal postura fisiológica sempre teve como base a troca de favores ou interesses, popularmente conhecida como “toma lá, dá cá”. Foi com esse discurso que Jair Bolsonaro se elegeu. Afirmava a seus eleitores que a “mamata havia acabado” ao chegar à Presidência.
Na verdade, tal procedimento nunca foi estancado. Continuou a ocorrer, não da forma clássica como conhecemos, mas por ter como critério de seleção, pessoas próximas ou de cunho ideológico que se aproxime do que defende o Bolsonarismo. Assim montou-se um governo de séquitos. Lembrando que Bolsonaro afirmou também – além do que já foi mencionado aqui – que o critério técnico na composição de seu gestão iria prevalecer. Isso é outro fato fantasioso que se apresenta como verdade. Basta, por exemplo, analisar o desempenho de alguns ministros e o que suas incompetências provocam na sociedade.
Além de não ter cumprido uma promessa de campanha em encerrar – assim que chegasse ao poder – o formato de “velha política”, Jair Bolsonaro viu cair por terra mais uma bandeira que sempre hasteou quando era candidato: combate à corrupção. As graves denúncias sobre aquisição de imunizantes, que se somam a cada dia de investigação, que perpassa pelo crime de prevaricação do mandatário nacional, o fazem – mais uma vez – cair em contradição.
Já se acumulam 122 pedidos de impedimento de Jair Bolsonaro. Do montante, 68 são pedidos originais, sete são aditamentos e 46 são duplicados. Até agora, seis pedidos foram arquivados ou desconsiderados. Ainda 115 esperam por apreciação. Como é sabido, a aceitação de pedido de impeachment de um presidente no Brasil, ocorre de forma monocrática. O presidente da Câmara decide ou não aceitar. Neste caso, Arthur Lira (PP-AL) já deixou claro que, no momento, tal aceitação de algum pedido está fora de qualquer possibilidade. Lira não esconde que é aliado do Palácio do Planalto, sua eleição para presidir a Câmara dos Deputados foi arquitetada pelo governo, também como forma de conter qualquer movimento de aceitação de um pedido de impeachment.
Para completar, no momento de produção deste artigo, um grupo amplo composto por parlamentares, líderes sociais, partidos políticos, movimentos populares e coletivos protocolou na tarde desta quarta-feira (30), um superpedido de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), reunindo argumentos de outros de 122 pedidos já apresentados à Presidência da Câmara dos Deputados.
Segundo o que foi noticiado pela CNN Brasil, os autores citam no texto mais de 20 crimes que teriam sido cometidos por Bolsonaro durante seu mandato. Os crimes estão divididos em sete categorias:
- Crimes contra a existência da União;
- Crimes contra o livre exercício dos poderes legislativo e judiciário e dos poderes; constitucionais dos estados;
- Crimes contra o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;
- Crimes contra a segurança interna;
- Crimes contra a probidade na administração;
- Crimes contra a guarda e legal emprego de dinheiro público;
- Crimes contra o cumprimento de decisões do Judiciário.
Ao todo, o documento é assinado por 46 parlamentares, entidades e partidos. As legendas que subscrevem o pedido de impeachment são PCB, PSB, PT, PSTU, Psol, PDT, PCdoB, PCO, Rede Sustentabilidade e Cidadania. O pedido também é assinado por deputados que já foram aliados do presidente, como Joice Hasselmann (PSL-SP) e Alexandre Frota (PSDB-SP). O deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), um dos líderes do Movimento Brasil Livre (MBL) também assina o documento.
Centrais sindicais como a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e Força Sindical, além de movimentos sociais como a Coalizão Negra por Direitos e o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) também estão entre signatários. Outros autores são associações de classe, como a Associação Brasileira de Juristas pela Democracia (ABJD) e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI).
O presidente Jair Bolsonaro ainda tem maioria ampla dos deputados, o que lhe garante, por ora, barrar qualquer pedido de impeachment. A questão agora é: até quando? O Centrão já começou a se mobilizar na discussão interna sobre manter apoio ao presidente. Se mantiver o apoio ao mandatário nacional, quanto isso custará? A pressão das ruas, que só aumenta, mudará a posição dessa base de apoio?
De certo mesmo, é que o presidente Jair Bolsonaro está sob pressão; sua popularidade cai a cada nova medição. E isso o faz ser mais dependente ainda de sua base, em especial do atual presidente da Câmara, Arthur Lira, de quem, inegavelmente, tornou-se fiador de Bolsonaro, que está, mais do que nunca, refém do Centrão. A ver.