Uma lente que não se apagará

Eu não era amigo de Anderson Souza. Não irei forçar aqui uma relação próxima que nunca existiu entre nós. Éramos, de verdade, admiradores mútuos do trabalho de ambos. Eu fazia questão de curtir, repercutir, conhecer, elogiar o seu trabalho, e quando ocorriam encontros presenciais, recebia por parte dele o mesmo reconhecimento, uma narrativa muito elogiável de sua parte, sempre citando um texto meu em nossas conversas.

Anderson tinha algo cada vez mais raro hoje em dia: uma postura profissional respeitável para com o próximo, independente de concordância sobre – como no meu caso – um texto lido. Sempre me chamava de “professor”, pois sabia que antes do blogueiro, havia uma vida docente anterior.

Em 2017, depois de algumas vezes nos “esbarrando” por ai, me fez o convite para visitar a sua exposição de arte, em que produziu uma verdadeira obra prima através dos registros de suas lentes a vida do povo Xikrin do Cateté, em uma galeria nas dependências de um shopping de Parauapebas. No ano seguinte, em 2018, voltou ao mesmo ambiente, agora para expor mais um lindo trabalho em que registrou a vida dos moradores de Serra Pelada, outro momento em que fiz questão de comparecer, desta vez sem convite, mas pela admiração que tenho por seu profissionalismo e competência. Depois disso, nossos encontros ficariam cada vez mais espaçados, todavia, sempre o seu trabalho estava em meu radar.

Anderson rompeu fronteiras. Participou de programas nacionais, ganhou prêmios em festivais em diversos estados brasileiros; seu trabalho atravessou países, chegou ao Irã. Nada disso o deslumbrava. Continuava a ser aquela pessoa simples. A sua humildade não cabia dentro de si.

É imensurável o quanto todos nos perdemos com a sua partida precoce, aos 40 anos. A fauna e flora de Carajás estão órfãs, os índios que tanto foram fotografados por ele também; os quadrantes de Parauapebas, sempre registrados de uma forma muito particular, que só ele tinha essa habilidade, agora ficarão eternizados em suas obras.

Não, não éramos amigos no sentido da convivência. Eu perdi muito por não ter sido amigo dele. Mas sempre fui e continuarei sendo um admirador de sua competência com as lentes e sua sensibilidade em registrar de uma forma muito particular. A arte perdeu muito. Nós perdemos muito.

Obrigado, Anderson Souza. Merecerá ser sempre lembrado pela pessoa que foi e pelo profissional que se tornou. Que descanse em paz. Vai o homem e fica a sua obra.

Imagem: reprodução. 

Henrique Branco

Formado em Geografia, professor das redes de ensino particular e pública de Parauapebas, pós-graduado em Geografia da Amazônia e Assessoria de Comunicação. Autor de artigos e colunas em diversos jornais e sites.

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