A Lama de Brumadinho Chegou a Schvartsman

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Até o dia 24 de janeiro do ano corrente, a presidência de Fábio Schvartsman era incontestável. O ex-CEO da Klabin, que assumiu o cargo máximo da Vale, em abril de 2017, substituindo a Murilo Ferreira, cuja a saída já havia sido anunciada com bastante antecedência. Schvartsman foi definido através de um longo e detalhado processo de seleção, conforme anunciado pela própria mineradora. A Vale decidiu contratar empresa internacional de seleção de executivos, a famosa Spencer Stuart, para ajudar no processo de escolha de seu novo mandatário.

A primeira medida de Schvartsman no cargo foi a de expandir os seus negócios mirando oportunidades de fusões, aquisições e estratégias para diversificar o seu portfólio; buscando diminuir a forte dependência do minério de ferro. Na época, Fábio, afirmou: “Apesar da alta qualidade dos ativos de minério de ferro da companhia e da alta lucratividade dessa unidade de negócios, o fato de todos os ovos estarem na mesma cesta é um importante risco de longo prazo para a companhia”. A Vale também contratou a consultoria Falconi para avaliar sua matriz de custos e identificar potenciais cortes; o que foi ocorrendo no decorrer do ano passado.

Os anos de 2017 e 2018 foram fundamentais para que Schvartsman pudesse realizar o seu maior objetivo: além de significativos cortes no custeio (com elevado nível de desligamentos funcionais) e paralisação na política de investimentos; a mineradora viu os seus balanços trimestrais baterem recordes, com grande contribuição da antecipação do aumento da produção do S11D, em Canaã dos Carajás.

Com as medidas realizadas, o nível de endividamento fechou o ano de 2017 na casa dos 17 bilhões de dólares, acima da meta pretendida de US$ 15 bilhões. Para 2018, a meta seria fechar o ano em 10 bilhões de “verdinhas americanas” de montante de dívida. Conforme divulgado pelo jornal “Valor”, atualmente a dívida da Vale está em US$ 11,5 bilhões (com atualização até o dia 30 de junho). Portanto, deve ter ficado abaixo da meta para 2018, o que é um grande feito, ainda mais para Schvartsman, que tinha como função principal ao assumir o comando da mineradora, a diminuição gradativa do endividamento, até chegar próximo de zero.

Para completar o cenário favorável aos seus acionistas, a Vale anunciou ao mercado que iria comprar (na verdade, recomprar) ações no montante de US$ 1 bilhão no decorrer de um ano de 2018, portanto, com média de recomposição acionária na ordem de 120 milhões de dólares a cada 30 dias. Essa ação de recomprar ativos acionários não acontecia desde 2011, fruto – segundo informações do referido jornal – de um caixa livre na ordem de 3,1 bilhões de dólares, o maior dos últimos dez anos.

No decorrer de 2018, a Vale continuou se valorizando, alicerçada na redução de custos, inclusive na produção, como no caso do S11D. Isso tudo só foi possível – conforme o que escrevi em 2017 – porque a empresa está cada vez menos dependente do minério de ferro, além de promover a expansão de seu portfólio para diversas áreas. A Vale é uma mineradora, cada vez menos mineradora.

Até o momento em termos de balanço contábil, só se conhece até o terceiro trimestre de 2018. O quarto período trimestral, assim como o balanço geral do ano passado só será conhecido nas próximas semanas. E deverá ser comemorado. Os objetivos traçados (muitos deles já expostos neste texto) estão sendo atingidos se não em sua totalidade, mas estão dentro das metas planejadas. A tragédia de Brumadinho não terá efeito sobre os números que serão divulgados, mas serão devastadores para o andamento do ano corrente, assim como para o futuro da Vale.

Mas tudo mudou a partir do dia 25 de janeiro, data do rompimento da barragem da Vale localizada em Brumadinho, Minas Gerais. Ali começaria a desmoronar a gestão de Schvartsman. A tragédia tomou proporções catastróficas, sobretudo no número de óbitos e ainda desaparecidos, que juntos passam de 300 pessoas. “Seria preciso um cataclismo para abalar o cenário da Vale.” – disse o presidente um ano antes da tragédia. E ela veio, infelizmente.

Recentemente escrevi o artigo: “A VALE do céu ao inferno. E agora Schvartsman?”, em que detalho – dividido entre “Deus” e o “Diabo” – a gestão de Schvartsman. Haverá uma forte retração de capital na Vale.
Portanto, o ano de 2019 será muito difícil e colocaria à prova o trabalho de Fábio, mas a sua permanência na presidência ficou insustentável, e ele foi afastado pelo Conselho de Administração, que acionou o seu plano de interinidade, já discutido previamente. O Conselho de Administração nomeou Eduardo de Salles como Diretor-presidente de forma interina.

Portanto, por recomendação do Ministério Público Federal e Polícia Federal, Fábio Schvartsman e mais quatro diretores foram afastados, sob a justificativa que sabiam da real possibilidade de ruptura da barragem de Brumadinho. Em carta dirigida ao Conselho, Fábio solicita o seu afastamento, mas em discordância com a decisão e mostrando-se frustrado.

Enfim, a lama de Brumadinho demorou, mas chegou a Avenida das Américas 700, Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, e levou os ocupantes das salas dos últimos andares.

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