Burrice: enfrentamos ou iremos estocar alimentos

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Na última segunda-feira, 07, o apresentador Bruno Aiub, conhecido nas redes sociais como “Monark”, foi o centro das atenções nas redes sociais e noticiários de forma geral, por defender em seu programa de Podcast, que os nazistas deveriam ter o direito de fundar um partido político no Brasil. A declaração tomou grande repercussão, gerando a saída de Bruno do programa de forma definitiva.

Algumas pessoas me mandaram mensagem sobre o fato, me indagando se Monark era nazista? Disse que não. Em sua fala fica claro que ele não defendeu o regime genocida alemão. Todavia, defendeu o direito de ser antissemita, ou seja, não gostar de judeus. Para ele ao se regularizar um partido nazista, estará se dando luz ao tema, para que seja melhor debatido. Tese que também foi defendida pelo deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), participante daquele lamentável episódio.

Ainda sobre o Monark, uma observação pessoal… Faz tempo que deixei de acompanhar o Flow Podcast, justamente pela falta de compromisso do citado com a verdade, com a informação. Não se pode aceitar que um apresentador que fala para milhares de pessoas diariamente, reproduza seus pensamentos em narrativas toscas, sem base. O fato sobre o Nazismo foi o que gerou a maior repercussão, mas Monark já havia produzido outras bizarrices, que não geraram tanta repercussão, mas foram igualmente reprováveis. Faz tempo que deixei de prestigiar os que julgo fomentadores da apologia à ignorância.

Para ambos, a Procuradoria-Geral da República (PGR) abriu investigação por apologia ao nazismo. No dia seguinte, ou seja, na terça-feira (08), outro fato ocorreu envolvendo narrativas nazistas, ainda como desdobramento do posicionamento de Monark. O comentarista da Jovem Pan, Adrilles Jorge, foi demitido do citado veículo após fazer movimento de despedida com as mãos, ação apontada como sendo a famosa saudação nazista. Algo negado pelo ex-participante de reality show.

Ambos os fatos ocorridos quase concomitantemente sobre o mesmo assunto, o Nazismo, algo banido em todo o mundo, me fez relembrar um primoroso artigo publicado em 2016, no jornal El Pais, escrito por Eliane Brum, uma reconhecida escritora, repórter e documentarista. Brum produziu esse reflexivo artigo com base na polêmica gerada por uma questão no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) daquele ano, em que um trecho da filósofa francesa Simone de Beauvoir sobre a mulher, havia virado um cataclismo. A nós serviu e ainda serve como uma reflexão para o culto à burrice.

Inúmeros fatos demonstram que a burrice se tornou um problema estrutural do Brasil. Se não for enfrentada, não há chance. A burrice está em todo o lugar. Ela ocupa diversos espaços institucionais, bancadas de TV, etc. Segundo Brum, são burros pagos por dinheiro público, burros pagos por dinheiro privado, burros em lugares privilegiados. Debater com seriedade a burrice nacional é mais urgente do que discutir a crise econômica e o baixo crescimento do país. A burrice está na raiz da crise política mais ampla. A burrice corrompe a vida, a privada e a pública. Dia após dia. Torna-se urgente, prioritário, fazer um esforço coletivo e enfrentar a burrice com o único instrumento capaz de derrotá-la: o pensamento.

Para a filosofa Marcia Tiburi, o confronto atual não é entre direita e esquerda, mas entre os que pensam e os que não pensam. Compreender o confronto atual como um confronto entre direita e esquerda, desenvolvimentistas e ecologistas, governistas e oposicionistas, machistas e feministas é, segundo ela, uma redução.

Vale perguntar: em um país em que a preocupação com a educação é uma flatulência, em que a não educação é a regra, para onde vai o lixo e que tipo de impacto ele produz no cotidiano, nos corações e mentes de quem o consome?

Os burros estão por toda parte e muitos deles estudaram nas melhores escolas e, o pior, muitos ensinam nas melhores escolas. Assim, os burros são a maioria. É preciso enfrentá-los com pensamento, fazer a resistência pelo diálogo. Ou, como diz Marcia Tiburi: “Sem pensamento não há diálogo possível nem emancipação em nível algum. Se não houver limites para a idiotice, resta isolar-se e estocar alimentos”.

Ser burro virou moda, deixou de ser constrangedor a quem é.

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